paulo1205
(usa Ubuntu)
Enviado em 01/06/2021 - 04:38h
Houve épocas em que “computador” significava a pessoa que realizava cálculos.
As primeiras máquinas chamadas computadores eram tão somente máquinas de calcular, e os programas que elas admitiam apenas permitiam que elas fizessem cálculos mais avançados ou mais refinados do que cada operação individualizada.
O aumento na capacidade de memória e na velocidade de realização de cálculos, bem como a possibilidade de usar computadores eletrônicos para controlar ou ser controlados por outros dispositivos elétricas, eletrônicas e eletromecânicas, foram ao longo do tempo permitindo que os novos computadores, construídos com as novas capacidades, fossem usados para fazer coisas que as gerações anteriores não podiam fazer diretamente.
Assim é ainda hoje. Enquanto não der defeito, seu computador antigo será capaz de fazer as mesmas coisas que fazia quando era novo, e tudo aquilo que for desenvolvido por terceiros e que tenha como alvo computadores com configuração semelhante à que você usa.
O problema com o desenvolvimento feito por terceiros é que a tendência a se produzir coisa nova para sistemas antigos vai diminuindo com o tempo, tanto porque a quantidade de máquinas antigas que sirva como público-alvo vai encolhendo quanto pelo simples fato de que os próprios desenvolvedores muitas vezes nem ao menos possuem máquinas antigas para usar como parâmetro para produzir material novo voltado a suas características.
Existe ainda a questão de que, em muitos nichos, é muito tentadora a ideia de explorar ao máximo os recursos novos para dar uma sensação de experiência mais agradável ou mais interessante. Exemplos evidentes são as indústrias de jogos eletrônicos, que demandam muito em capacidade gráfica, memória e processamento, ou
streaming de áudio e vídeo, que demanda muito em termos de conectividade e alto desempenho de rede.
Ano passado, eu tentei colocar um velho
netbook de 32 bits em condições de uso, tanto com Linux (acho que com Kubuntu) quanto com Windows (não lembro de Windows 7 ou se cheguei a tentar Windows 10). Funcionava? Sim. Mas tinha muitas limitações. Como 2020 foi o ano do “fique em casa”, uma coisa importante eram ferramentas de videoconferência, mas não havia muitas opções de 32 bits para Windows, e menos ainda para Linux. Chrome de 32 bits para Linux não existe mais há alguns anos, e mesmo o Firefox, por ter de suportar um monte de tecnologias modernas usadas na
web atualmente, ficava pesado numa máquina com processador Atom e com “apenas” 2GiB de RAM.
Possivelmente a experiência de uso ficaria um pouco menos sofrível, por um lado, se eu usasse um Ubuntu 10.04 (ou mesmo 12.04) e Windows XP, bem como navegadores web e outros programas escritos há dez ou quinze anos. Por outro lado, no momento em que eu entrasse na web, muita coisa não iria funcionar (vários protocolos evoluíram e não suportam mais recursos usados em versões antigas, incluindo o HTTPS), um tanto de outras coisas que pressupõem muita memória e muito poder de processamento rapidamente sufocaria o bichinho, e outras tantas coisas possivelmente tentariam explorar vulnerabilidades de segurança que apareceram nos últimos anos para infectar a máquina, roubar ou sequestrar meus dados, ou transformá-la num nó de uma
botnet maligna qualquer.
Segurança é um ponto importante neste mundo altamente conectado. Os riscos são reais. Talvez sejam maiores para quem usa Windows do que para em usa Linux (até porque, do mesmo modo como o mercado de software legítimo se volta para o que tem maior público alvo em potencial, o de
malware também se volta mais para aquele em que tem mais oportunidade de se propagar), mas há muito tempo o sistema operacional deixou de ser o único meio de infecção. Todo navegador web, hoje em dia (e já há muito tempo), executa código (seja Javascript, WebAssembly, Java, Flash etc.), e vulnerabilidades em navegadores têm potencial de dano comparável às de outras formas de infecção mais próximas do nível de sistema operacional em décadas anteriores. Sem falar de outros mecanismos de infecção, tais como por meio de PDF (ainda mais com visualizadores antigos), macros em documentos de aplicativos de escritório, e outros.
Existe mercado para o que se chama de
retrocomputing. Há quem ainda produza, por exemplo, em pleno 2021, jogos novos para Apple II, Commodore 64, VIC-20 ou PET, e mesmo para o bom e velho Atari 2600. Mas esse é um mundo pequeno, de uns poucos entusiastas que conseguem ter suas máquinas com literalmente quatro décadas de idade ainda funcionando, de alguns saudosistas que usam emuladores de máquinas antigas em PCs modernos, e de muito poucos produtores de
software para máquinas tão antigas. Há também quem prefira as máquinas um pouco menos antigas, como os que colecionam XTs, 386s ou 486s rodando MS-DOS (e talvez versões de 16 bits do Windows). Mas note: o que eles fazem com essas máquinas hoje é rodar os mesmos programas que rodavam nessas máquinas originalmente, ou programas escritos recentemente mas que respeitam os limites tecnológicos das máquinas de décadas passadas. E um desses limites era a de pouca conectividade por redes de dados com o mundo exterior. Não conheço quem espere rodar, de modo decente — se é que de modo algum —, o Microsoft 365 ou o YouTube num TRS-80, MSX ou mesmo num 486.
... Então Jesus afirmou de novo: “(...) eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente.” (João 10:7-10)