hrcerq
(usa Outra)
Enviado em 24/01/2019 - 22:36h
Olá, SamL.
Acho importante lembrar uma coisa: não confundir Internet com redes sociais. Existe um abismo conceitual entre essas duas coisas. Quando a Internet se expandiu, na década de 90, o principal propulsor disso foi o acesso ao conteúdo.
Quem viveu essa época certamente se lembra como eram as páginas Web. Era mais texto, menos ícones, menos imagens, menos design. Conteúdo era o principal. Depois começaram a papagaiar com GIFs animados, e aí a coisa só foi piorando com Applets, Flash, e hoje essa infestação de Javascript.
Nesse contexto surgiram essas aberrações que servem para
manipular e
mudar o comportamento das pessoas, que se convecionou chamar de "rede social".
Mas na real, ela não é rede, e nem é social. É uma plataforma centralizada, feita para se adaptar conforme o uso, observando o comportamento (em geral
narcísico) das pessoas. Quem usa isso é (conscientemente ou não) voluntário para
experimentos sociais, é cobaia. O que você diz ali é persistido e lido
fora de contexto, interpretado por outras pessoas sabe-se lá como. Sem falar no tempo absurdo que se perde com isso.
Já prestou atenção à letra da música "Aviso aos navegantes"? Eu arriscaria dizer que Lulu Santos viajou para o futuro, e depois voltou àquela época pra tentar alertar o povo. E falhou.
Sobre o tema das redes sociais, recomendo o livro "Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais", de Jaron Lanier, pioneiro em realidade virtual (desde os anos 80).
Só tenho uma coisa mais a dizer sobre isso: a sensação que tive ao sair do Facebook, há uns 6 anos foi de uma paz indescritível. Recomendo a todos que façam o experimento de sair por um tempo pra ver como é a sensação. Sair mesmo. Avisar algo como "pessoal, esse mês estarei offline" e esquecer isso.
Outro ponto importante: não confundir Web com Internet. Existem outros serviços na Internet: e-mail, IRC, xmpp (e semelhantes), streaming de rádio, etc.
O que conecta as pessoas não é a tecnologia. Bom, ela até ajuda, mas o elemento principal é o contexto, é a autoralidade das coisas. É ver o conteúdo cuidadosamente criado e elaborado pelos outros, entender porque aquilo foi feito, parar de olhar pra si e olhar para a realidade do outro. Talvez até mesmo se inspirar com isso e criar o seu espaço.
Os blogs, os podcasts, as rádios, as wikis, os fóruns, os bate-papos, os e-mails, esses são os elementos que realmente tem potencial para conectar as pessoas. Porque eles tem um propósito além da mera "interação social" (entre aspas mesmo, porque como eu disse é uma interação marcada pelo narcisismo, só se fala de si). E principalmente, esses serviços que falei não fazem uma
gamificação social, não te transformam em um mero joguete experimental.
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Atenciosamente,
Hugo Cerqueira
Devuan -
https://devuan.org/