Teixeira
(usa Linux Mint)
Enviado em 16/10/2012 - 14:26h
Eu entendi que você trabalha em uma empresa especializada em TI e que tem um cliente cujos processos administrativos não são lá muito adequados, e que pretende fazer agora essa adequação através de uma rede de computadores.
E é exatamente por isso que eu recomendei cuidado.
Cada empresa tem uma personalidade e metodologia administrativa próprias, e seus funcionários geralmente caem numa espécie de torpor, como que "em trilhos" onde entram em uma faixa de grande comodidade, e qualquer coisa que venha pretender tirá-los dessa comodidade sofre rejeições em vários níveis.
Daí em diante, quando qualquer coisa não dá certo - e isso fatalmente acontece - a "culpa" é sempre "do computador" e/ou da firma que instalou os computadores (percebe?).
Portanto, se há rotinas administrativas mal resolvidas, elas devem ser corrigidas
antes de instalar as nossas "máquinas-de-fazer-maluco", mesmo que seja na munheca, mesmo.
É isso que eu entendo como
TI.
"TI" é inteligência, é saber alimentar e tirar real proveito dos dados processados, é saber interpretar, é saber gerenciar, dirigir, e não apenas imprimir n formulários.
Qualquer coisa menos que isso é mero "processamento de dados".
Computadores são meros instrumentos
também usados em TI, mas não são a própria essência da TI.
Um bom PDI é como se fosse uma biópsia da empresa-cliente (ou uma "autópsia antecipada" rsrs).
E biópsia é ferramenta para quem entende do assunto.
Deve-se pois analisar com muita atenção
o que os funcionários estão fazendo,
como estão fazendo e
porque estão fazendo de um determinado jeito. Se alguma coisa parecer deficiente, estranha ou redundante, o momento de corrigir é antes e não depois. E para essa correção é necessária a participação direta de todos os envolvidos, para que eles possam se explicar, opinar e fazer parte da solução.
Isso lhes concede valorização e orgulho profissional.
(Vou ter de parar por aqui).
(Reassumindo)
Um PC em um processo ligado a TI é como se fosse ora um lápis, ora uma caneta, ora uma máquina de escrever ou de calcular, ora uma usina, ora um conglomerado de soluções. Porém é necessária uma visão holística do repertório de procedimentos organizacionais.
Pequenos procedimentos colaterais - com ou sem PC - podem significar grandes vantagens ("repentes de genialidade") ou grande perda de esforços e consequentemente de dinheiro (o que ocorre em muitos casos).
Dou um exemplo extremo: Em uma empresa nossa cliente (uma sociedade anônima), as notas fiscais eram emitidas em 15 vias! Investigada a razão de um número tão grande de vias, constatou-se que várias pessoas da chefia - inclusive o diretor-presidente - manifestaram em algum momento o desejo de "ver" uma via de cada nota fiscal.
Entendeu-se portanto que era
uma via para Fulano,
outra para Ciclano,
outra ainda para Beltrano, e assim sucessivamente.
O custo desse formulário contínuo era enorme, e sem que ninguém se desse conta de que as "necessidades" apresentadas individualmente não eram "tão necessárias" assim.
As próprias pessoas interessadas em "ver" cada nota fiscal não sabiam que estava sendo impressa uma via para
seu uso exclusivo.
Essa empresa tinha sérios problemas na política de RH e que repercutiam indiretamente no departamento de arte, na gráfica, na tesouraria no PCP.
Para que se tenha uma idéia, os auxiliares de serviços gerais lotados no departamento gráfico - por causa do piso salarial da categoria - ganhavam bem mais que os funcionários auxiliares da tesouraria, dos quais eram exigidos nada menos que 2 anos de prática e registro no CRC.
Assim que tomavam conhecimento da gritante diferença salarial, começavam a procurar novo emprego, gerando um turn-over fora do comum, e provocando redundância de procedimentos (era necessário que pelo menos duas pessoas fizessem o mesmo serviço, pois não se sabia ao certo quem iria sair primeiro e quanto tempo iria durar na empresa).
E como sempre o computador fazia parte dos problemas, mas não da solução.
Feitas as devidas adequações, tudo passou a correr como deveria, a empresa pôde manter a sua personalidade e os funcionários ficaram satisfeitos em participar do sucesso da empreitada.
Por isso estou dando o meu pitaco no sentido de que, antes de saber "que máquina" deve-se saber os "onde", "quando", "quem", "como", "por que" e "para que".
Boa sorte!
PS:
Outro exemplo, infelizmente ainda bem vivo, é o de uma certa empresa governamental que tem sistema administrativo integrado, mas que se vê obrigada a utilizar planilhas do Excel para determinados controles.
Isso vira "controle paralelo" e gera as maiores confusões, já que não há integração.
Como é coisa do governo e depende mais de "política" que de "administração", já sabemos que esse fenômeno vai durar ainda algumas décadas...
Pode trocar de computador 300 vezes que não irá resolver.
Certos problemas transcendem de longe o conceito de "Tecnologia da Informação".