Pode parecer loucura, nos dias de hoje, com a grande capacidade que o hardware moderno, mesmo nas máquinas mais populares e com a facilidade e recursos que um servidor X proporciona, alguém busque trabalhar em modo texto. Mas antes de atribuir esse adjetivo e descartar esse artigo, peço um pouco mais de calma. Não estou dizendo que o modo texto é, em absoluto, melhor que o modo gráfico, mas elucidar as grandes vantagem que podem ser disponibilizadas quando não se teme a tela preta.
Esse artigo é escrito para aqueles que tem coragem para arriscar e explorar o desconhecido, quebrar a cabeça na frente da telinha, mesmo quando pode usar um programa de mais fácil utilização, mas que rode em X. Não, não é masoquismo, não é por gosto da frustração ou coisa do gênero. A questão é que, nem sempre o melhor é o mais fácil ou o mais conhecido. Há muitos recursos que ficam escondidos em painéis e formulários esteticamente bonitos, mas que podem ser explorada toda sua potencialidade, basta coragem. Afinal, não foi por isso que a maioria de nós está aqui hoje, usando
Linux?
Não, eu não estou afirmando que o Linux é ou tem que ser difícil. A questão é um pouco mais complexa; tentei abordar ela num outro artigo que escrevi, chamado
facilidade x possibilidades. Acredito que o excesso de facilidade tem nos deixado um tanto viciados, assim como preocupados demais com a beleza visual, isso reflete no trabalho dos programadores e designers, que têm se preocupado muito com o visual do seu trabalho, em detrimento da qualidade desses programas. Claro, há ainda outras várias questões relevantes que podem levar um usuário a optar pelo modo texto, como por exemplo: uma máquina com recursos limitados, agilidade, eficiência, etc.
Imagine que você tenha um 233 MHz jogado num canto. O que você pode fazer com esse computador? Jogar fora? Com certeza muito pouco se estiver pensando em encher de softwares "fáceis e bonitos". Imagine se você está pensando em montar um servidor e tem aquela máquina jogada no canto desde o tempo em que ter um walk-man era bom (para os mais novos: era um mp3-player grandão onde se colocavam fitas k7): você irá gastar mais um milhar de reais na compra de um computador novo? será que o velho não agüenta o tranco? Claro, se será o suficiente, depende do tipo do servidor e da demanda de usuários, mas em várias situações, computadores antigos podem ser usados sem problemas. É evidente que nesse computador não será possível instalar certos softwares, como por exemplo a última versão do KDE, mas mesmo em grandes servidores, é melhor poupar recursos usando apenas os softwares estritamente necessários (normalmente todos em modo texto), do que softwares desnecessários que deixarão, talvez, o trabalho no servidor mais bonito e fácil de usar; mas lembre-se, facilidade nem sempre se traduz em eficiência. Lembre-se, quanto mais dos recursos da máquina você demanda para a aparência, menos lhe sobra para tratar de outras áreas.
Há também a questão emergencial: imagine-se um usuário do X feliz, com suas necessidades plenamente satisfeitas por computadores e softwares "top de linha". Agora reflita sobre a seguinte situação: Pane no sistema - seu X vai pro espaço e você precisa entrar em contato com um amigo/cliente através de um messenger, baixar um arquivo de uma página na internet, tocar um arquivo de áudio, editar um arquivo, mandar um e-mail, ou outras coisas do gênero, e por algum motivo é importante, urgente e absolutamente prioritário. O que fazer? Sentar e chorar? Não, use o modo texto; ele existe e é extremamente útil e funcional (boa parte dos usuários Linux sabe muito bem disso).
Mas claro, mesmo que tenha um computador potente, muito bem configurado, outros computadores disponíveis para qualquer emergência e nenhuma necessidade de configurar algum servidor, pode usar o modo texto apenas porque gosta dele. :D
Seguindo mais ou menos o que o Aurélio (verde) já falou quando se propôs a objetivo parecido (
www.aurelio.net/doc/coluna): Não sou nenhum guru do Linux (inclusive conheço menos que o próprio Aurélio) eu apenas gosto de estudar e me propor desafios. Meu objetivo não é que as pessoas larguem o X, mas que entendam como funciona o modo texto, essa ferramenta maravilhosa. Podendo inclusive conciliar os dois modos, debulhando um terminal gráfico dentro de um servidor X.
Num primeiro momento vou supor que quem está lendo os artigos dessa série já possua conhecimentos básicos para trabalhar com modo texto e vou nivelar pelos comuns quanto a configuração das máquinas. Vou supor que o usuário possua um computador de porte médio, com os pacotes mais comuns instalados, configurados da maneira mais comum. Como eu disse antes, a princípio, não é necessário de forma nenhum retirar ou sair do X, basta executar um terminal gráfico (como o xterm, konsole ou gnome-terminal) e se divertir com a telinha preta. Se me for possível avançar a este ponto, num segundo momento vou tratar do modo texto de forma um pouco mais avançada; almejo trazer conhecimento suficiente para que possa-se olhar para a telinha preta sem medo [e sem apelar para um "startx"].
Mãos à obra!