A sociedade em rede

O presente artigo pretende fazer uma comparação entre dois modelos de relação sujeito-mídia, representados pela "aldeia global" de Marshall Mc Luhan e a Sociedade em rede, formulada por M.Castells, apontando para perspectivas futuras do chamado "mundo virtual" após o surgimento do Linux.

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Por: Janez Robba em 07/09/2006


Comentário sobre o texto de M.Castells



Comentário sobre o texto "A cultura da virtualidade", de Manuel Castells.

A evolução dos meios de comunicação corresponde, segundo Castells, a dois modelos de relações sociais (ou mediadores das relações do homem com si mesmo, com o outro e o mundo) chamados de Aldeia Global e Sociedade em Rede.

O primeiro modelo, idealizado por Mc Luhan, tem na televisão o seu grande ícone, em torno do qual as mídias formaram um mercado global homogêneo, transformando o espectador em objeto passivo dos caprichos do mercado, ao mesmo tempo em que, guiadas pelos achados da propaganda e da publicidade, prepararam a mudança em sua linguagem, que veio a se tornar mais flagrante em 1990, com a guerra do Iraque e em 2001, com a queda das torres gêmeas, nos EUA: a transformação do fato em espetáculo, em um show distribuído para todas as partes da terra em tempo real, isto é, sua banalização e transformação em mercadoria efetivamente atraente, seja pela novidade, pelo colorido ou pelo movimento. Desde então, As catástrofes, os grandes julgamentos, as eleições, etc, deixaram de ser acontecimento, passando à categoria de mega-produções.

Até a primeira ofensiva americana ao Iraque, os computadores pessoais ainda não gozavam de grande popularidade por falta de algo que só veio a acontecer em 1995: o surgimento do Windows, o primeiro sistema operacional com uma interface gráfica, primando pela beleza e pelo seu colorido, bem diversos da monotonia do modo texto, inaugurando a era do computador como diversão e a interatividade, marcas da chamada "sociedade em rede".

A partir daí foi uma questão de tempo para que nele se centralizassem todas as formas midiáticas de diversão, de forma que nos dias de hoje a informação e a diversão encontram o usuário em qualquer lugar do planeta, a qualquer hora.

Se antes apenas o rádio podia chegar ao seu ouvinte em movimento (no carro, por exemplo), agora todo tipo de informação pode alcança-lo até mesmo caminhando na rua, e então o assédio do mercado não se limita mais ao horário nobre da TV.

Até a data em que o texto de Castells foi escrito, duas grandes criações ainda não haviam surgido: A interface gráfica do Linux (Sistema operacional LIVRE e de código aberto, de modo que o seu usuário pode modifica-lo a seu bel prazer, desde que saiba como faze-lo) e a Wikipedia (hoje, a maior enciclopédia virtual do planeta, igualmente livre, escrita pelos seus próprios usuários).

O enorme grau de adesão experimentado pelo Linux e pela Wikipedia nos últimos anos refletem uma nova atitude dos usuários em relação ao mundo virtual, que parece ser a de exigir uma participação efetiva na criação deste mundo, bem como a escolha da forma desta participação e, mais importante, a definição das regras deste mundo.

Então, se é a fantasia a instância que media a nossa relação com o real, a liberdade de fantasiar parece em vias de se impor em um mundo-espetáculo, movido pelos números dos institutos de pesquisa de opinião. Tendo nascido nos EUA, era natural que os americanos reivindicassem para si a governança da rede, e esta ainda se dá pela união com o mais popular sistema operacional que se conhece (Windows), de forma que, no fim, é o CONTROLE que alcança o usuário onde quer que ele esteja, e mais intenso ainda do que nos tempos da "aldeia global".

Nos dias atuais já se pode considerar como possibilidade para o futuro um mundo virtual dividido entre duas tendências que se equilibram mutuamente: uma parcela de usuários cujos apetites, paixões, pensamentos e tendências são determinados de cima, tendo o individualismo, a submissão e a indiferença como marca e uma outra, marcada pela auto-organização, solidariedade e auto-determinação, formando sua contrapartida. Se por um lado a transformação do mundo em espetáculo torna o mundo virtual atraente, mesmo que à custa da autodeterminação e da liberdade de pensar de cada um, por outro, a liberdade de criar, de escolher, de se relacionar de uma forma mais autêntica com o outro e decidir os próprios destinos é uma força cuja existência os papas do mundo virtual não poderão ignorar por muito tempo, sob pena de se tornarem simplesmente coisa do passado.

Fontes:
   

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Comentários
[1] Comentário enviado por razgriz em 08/09/2006 - 01:09h

Muito bem, fazia tempo que não via isso por aqui =]

[2] Comentário enviado por boxmga em 08/09/2006 - 14:55h

Bom artigo, mas permita-me 2 observações.

Embora tecnicamente o windows seja considerado um sistema operacional (!!!) à partir da versão 95 (ou o que deveria ser a versão 4.0), sua data de lançamento correta é 1985 (data da versão 1.0, na forma de um pseudo-shell gráfico).

E, a maior injustiça, o windows nunca passou sequer perto de ser "o primeiro sistema operacional com uma interface gráfica, primando pela beleza e pelo seu colorido".

A interface do windows só ficou "palatável" à partir da versão 95, enquanto o Mac OS, este sim, sistema operacional desde o início, já nasceu gráfico mais de 10 anos antes, em 1984.

E em termos de beleza e colorido, a MS sempre esteve aquem da Apple, correndo atrás e imitando o "jeito Mac". Me recordo de uma reportagem, à época do lcto do win95, que dava conta que os funcionários da Apple usavam buttons com a inscrição win95 = mac85.

[3] Comentário enviado por DooM em 08/09/2006 - 15:44h

Para entender melhor o lado podre das companhias de informática das décadas 80,90, conforme observado pelo BOXMGA sugiro que assistam ao filme Sillicon Valley: Piratas do Vale do Silicio.
Muito bom e retrata a trajetória de forma paralela de duas companhias importantissímas para a história dos computadores, a Apple e a Microsoft.
É impressionane a falta de senso ético que o filme passa sobre os personagens Steve Jobs e Bill Gates.

[4] Comentário enviado por coffnix em 09/09/2006 - 00:38h

o windows não foi a primeira interface gráfica!! seria bom dar uma lida pela trajetória dos ambientes gráficos antes de colocar isso como sendo a pura verdade:

um artigo meu: http://www.bestlinux.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=576&Itemid=8585858

um site sobre toda a trajetória: http://toastytech.com/guis/index.html

seria mui bueno uma correção da sua parte, caro highwaystar.

Sobre a cooperatividade, isso está no sangue de nós, verdadeiros defensores da liberdade de software (e não da gratuidade), e existe a muuuito tempo meu caro.

mas gostei do artigo, muito bem escrito e simples. Parabéns, e que o conhecimento de todos possa enriquecer os próximos artigos feitos por ti.

como diz o comercial da IBM sobre Linux: "ele aprende, todos aprendemos"


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