Dúvidas iniciais para começar Open Hardware de mouse + GUI

Alguns artigos tentaram problematizar ou estimular o Open Hardware. É com espírito de desenvolvimento aberto que quero desenvolver um mouse conjuntamente com inovações em interface de usuário (GUI- Graphical User Interface). Porém tenho dúvidas iniciais sobre questões de diferenças hardware x software, viabilidade de desenvolvimento etc, para os quais espero comentários para iniciarmos um debate.

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Por: celio ishikawa em 16/06/2008


O que devemos fazer? O que os concorrentes estão fazendo?



Vou fazer um apanhado dos meus dilemas iniciais para desenvolver um projeto Open Hardware de mouse + GUI (um mouse novo para repensar a era das janelas e ícones):
  • Patentear ou basta licença pública (GPL, CC)? (aparentemente é melhor patentear primeiro para depois abrir para desenvolvimento open)
  • A patente dá conta apenas de processos novos, não sendo possível registrar idéias e problematizações que surgirem durante o desenvolvimento colaborativo. Será que mesmo assim estaremos protegidos pela licença pública?
  • Em termos de hardware, teoricamente uma simples mudança no revestimento de um mouse já poderia ser patenteável. Mas por outro lado, parece que há uma certa permissividade entre os fabricantes que ultrapassa até licenças livres: supostamente muitos GUI estão, não só patenteados, como também são proprietário-fechados e mesmo assim não há processos judiciais quando um fabricante implementa a novidade do outro; e quando a Microsoft divulgou aquela nota dizendo que Linux deve estar violando centenas de patentes, os boatos são de que alguns se referem às GUI, mas que não passaria da ameaça para processo judicial, pois a própria Microsoft teria feito muita apropriação de GUI de outros.
  • Se outros artigos discutiram que os custos no desenvolvimento de hardware podem ser maiores que o de softwares, mas mesmo assim mantinham a esperança de que Open/Free Hardware seria possível, essa permissividade de que farei traz um cenário novo: se até fabricantes proprietários-fechados podem copiar nossas inovações de hardware aliadas a GUI de softwares, perde um pouco de sentido a licença pública. Ou ainda: se estamos desenvolvendo sob uma licença e um fabricante proprietário-fechado resolver copiar, como procederemos? Devemos processá-la ou devemos deixar para lá para que não abra precedente para os fabricantes processarem os softwares livres que imitaram as GUI de seus produtos? (exemplo: ainda que diferente, GIMP tem GUI similar de Photoshop, KDE tem GUI similar do Windows etc).

Para pensarmos melhor, melhor vermos o que os concorrentes estão fazendo: estão surgindo novas idéias e tecnologias nesse ramo de periféricos e GUI. Aparentemente muita coisa está sendo patenteada mas ainda temos de esperar para ver se haverá, por exemplo, processos judiciais que impeçam o desenvolvimento de aplicações baseadas no multitouch-screen (patenteadas tanto pela Microsoft quanto pela Apple):
  • A Microsoft está desenvolvendo Surface, uma grande mesa digital multi-toques. Em resposta pelo lado do software livre, estão desenvolvendo MPX com Diamond Touch (porém, infelizmente, pelo jeito esse Diamond touch não é open hardware);
  • Embora Microsoft diga que Surface pode significar o fim de mouses e teclados, recentemente ela patenteou "um novo conceito de mouse", que é um clipe para encaixar na mão. Tem botões ao alcance do polegar e ao fechar a mão é possível movimentar o cursor na tela como um joystick do tipo Nintendo Wii;
  • Apple e os multitoques: prestem atenção para esta notícia que apareceu no macnews: "Apple pede patente de touch-screen inovador"; "A Apple entrou com um pedido de patente intitulada: 'Gestuais para dispositivos de entrada sensíveis ao toque', incluindo no pedido, diversas ilustrações de uma mão executado gestos muito similares aos usados para controlar as rodinhas dos iPods"; "Entre os pontos inclusos na patente, estão a habilidade de se rotacionar, aproximar e recuar a visualização, o virar de páginas, gerar controles de ações por sequências de movimentos como de rodinha, inércia e flutuação";
  • Ouvi dizer que o iPhone é cercado por umas 200 patentes. Contudo, estão surgindo similares tanto para iPhones quando iPods, com touch-screen. Talvez esse seja o caso de permissividade entre os fabricantes (não tenho certeza...). E talvez, se fosse seguido a risca, as patentes da Apple e da Microsoft impediriam o desenvolvimento do Surface e dos iPhones;
  • Porém, a Apple também parece não ter desistido do mouse: patenteou (ainda que sem previsão de lançamento) o "mouse multi-touchscreen", que é um mouse iluminado por uma luz interna que interpreta as sombras da mão do usuário (mas talvez possa chegar a reconhecer impressões digitais), o que poderia representar a volta dos mouses de mac sem botões aparentes: a partir dos movimentos dos dedos, o mouse interpreta se o usuário quer clicar, usar a roda de rolagem etc;
  • Já a Logitech lançou Mx Air, um mouse que funciona como mouse comum na mesa, mas também pode ser usado no ar por ter detector de movimentos. Uma pirueta pode por exemplo acionar o comando de trocar de música etc. Seu formato é intermediário entre um mouse, controle remoto e Wii.

Todas essas tecnologias devem ter patentes, ainda que não seja para a totalidade dos aspectos dos produtos.

Voltemos para o nosso projeto de Open Hardware: a conclusão de vocês pode ser diferente, mas pelo que visto, a melhor alternativa parece ser ter uma patente, até para proteger de apropriações (registros de patentes alheias) sobre nosso desenvolvimento. Atualizar a patente a cada melhoria interessante que desenvolvamos, mas ao mesmo tempo que impedimos que outros roubem o registro da patente sobre nosso produto, talvez possamos ser permissivos de deixar que não apenas copiem o projeto pelos preceitos do Open Source mas também deixar que os proprietários-fechados o façam.

A permissividade que existiu no desenvolvimento de periféricos e nos GUI, e que pode continuar nos multi-touch-screen apesar das patentes da Apple, Microsoft, ou ainda dos controles baseados em detecção de movimentos (Nintendo, Logitech, Microsoft), parecem indicar um tipo de Open Business, ainda que alheios à Open Source.

Isso traz a provocação de que boa parte de hardwares (e softwares que os acompanham) já se desenvolve de forma aberta sem precisar de Open Hardware.

Bem, esse foi o primeiro artigo para iniciar o debate. O fato de escrever sobre isso ajudou a organizar as idéias e a clarear a situação. Por conta das particularidades dos Hardwares, seu desenvolvimento pode ser mais lento ou mais difícil que dos Softwares, ainda mais se não houver alguma empresa envolvida. Vimos também que muitas coisas, apesar de patenteadas, não impedem o surgimento de similares e talvez devamos encarar isso como um open business, ainda que muitos o façam sem seguir os preceitos de Open Source.

O desafio então é que o Open Hardware consiga apoio para desenvolver seus projetos de forma viável apesar dessas particularidades, pois de fato pode trazer grandes benefícios quando uma porção apreciável de hardwares for Open ou Free.

Quando surgirem novidades (ainda estou desenvolvendo o básico do mouse Open Hardware) ou novas reflexões, postarei num novo artigo. Valeu e obrigado.

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Páginas do artigo
   1. Que mudanças em hardware são patenteáveis?
   2. Outro lado (software): a camaradagem nos GUI
   3. O que devemos fazer? O que os concorrentes estão fazendo?
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Comentários
[1] Comentário enviado por jeroavf em 16/06/2008 - 11:04h

O Open Hardware existe há muito tempo , desde a divulgação dos circuitos eletronicos em revistas como Antena , Nova Eletronica, Saber Eletronica etc. O que é novo e está chamando atenção é a convergencia de programação de microcontroladores usando GCC , linux embarcado em placas construidas com a divulgação de seus equemas, pabx de baixo custo usando asterix, uClinux para populações carentes e softwares de CAD para placas de circuito impresso Open-Source ou freeware (gEda , Eagle). Esta convergencia permite a qualquer um criar dispositivos de acordo com a sua necessidade e complexidade maior ou menor de acordo com a sua habilidade com eletronica. Um bom exemplo disso é o Arduino (http://arduino.cc) que conseguiu criar um ecosistema de criação de hardware livre usando GCC,JAVA e microcontroladores de baixo custo que contabiliza mais de milhares de placas construidas para as mais diversas utilizações.
Eu sou um entusiasta do assunto e sempre que posso divulgo este conceito:
Jeronimo Avelar Filho
www.blogdoje.com.br
Avr , Arduino, Arm e Tecnologia em geral

[2] Comentário enviado por DanielGimenes em 16/06/2008 - 13:33h

Acredito que a Microsoft e a Apple já adotam um esquema mais aberto quanto às patentes, apesar da ridícula ameaça ao Linux citada. Eles devem manter as patentes fechadas para desincentivar empresas menores e ter alguma segurança.

Daniel

[3] Comentário enviado por Teixeira em 16/06/2008 - 15:00h

A idéia em si é muito boa e merecedora de aplausos e incentivo, porém de muitas considerações ainda - o que todavia não chega a ser um obstáculo.

As primeiras dificuldades a serem vencidas são exatamente de natureza legal, envolvendo patentes e forma de licenciamento, que devem ter apoio no Direito Internacional.

Acho que uma boa forma de licenciamento seria aquela em que todas as empresas do mundo pudessem fabricar dispositivos "open" desde que não pretendessem futuramente apoderar-se ("legalmente") de nenhuma das particularidades do projeto, e em caso contrário sofressem PESADAS sanções.

De vez que ainda não existe uma licença com tais características, teria portanto que ser MUITO bem redigida e ter abrangência mundial.

Em nosso país temos de considerar ainda a - pesadíssima - carga tributária sobre os assim-chamados "produtos industrializados", onde o simples ato de colocar uma embalagem mais apropriada a um produto constitui-se em "industrialização" e gera impostos cumulativos (embora o governo sempre jure de pezinhos juntos que não está praticando tributação múltipla sobre o mesmo produto).
Aprende-se na Faculdade de uma forma, mas governo após governo, vão negando tudo aquilo que aprendemos.

A grande indagação é: Quem fabricará o "nosso" mouse a partir do zero, em escala industrial, mas sem nenhum incentivo fiscal?

Devemos considerar que "nosso" mouse talvez não seja nenhum campeão de vendas e que os custos iniciais sejam altos (moldes, estamparia, etc.).
Com uma carga tributária de quase 50% (ou mais, considerando encargos sociais) a tendência é que o projeto seja inviabilizado no nascedouro.
Um mouse "standard" pode custar cerca de R$ 6,50 a R$ 20,00 (se importado da Ásia) porém custará muito mais do que isso se for fabricado - e não apenas montado - aqui.

Contudo, muitas coisas que eram impossíveis há alguns anos, atualmente são perfeitamente viáveis.

Cito como exemplo o telefone, inventado por Alexander Graham Bell, uma ferramenta de inegável utilidade nos lares e sobretudo nas empresas, podendo-se até ousar dizer que foi o que tornou viável a internet da forma como a conhecemos.

Pois bem, esse invento teria passado totalmente despercebido, se nosso querido D. Pedro II não se houvesse admirado de tal invenção (ao ponto de exclamar: "Meus Deus! Isto fala!") e literalmente "vestido a camisa" do Graham Bell, financiando-o durante um bom tempo.

O identificador de chamadas (Bina) foi inventado por um brasileiro e 8 anos após haver finalmente saído o seu registro de patente, foi lançado um produto similar, canadense, cujos sucessivos clones são o que hoje chamamos de "caller ids".
Infelizmente, D. Pedro II não estava mais entre nós e parece que depois da sua época os governantes pararam de ter aquela visão excelente.

Como já disse, pode até ser mais difícil. MUITO difícil.

Mas não impossível.

[4] Comentário enviado por celioishikawa em 17/06/2008 - 20:32h

Obrigado pelos comentários. Com certeza será útil.
Na verdade o projeto de Open Hardware Mouse ainda está em conceitos, ainda que uma idéia ou outra seja bem empolgante. De um projeto bem conceituado espero que surjam oportunidades para prosseguir. Eu também acho que não é impossível. Se as pessoas desistissem quando parecesse impossível, nem teria nascido o software livre.

[5] Comentário enviado por GilsonDeElt em 18/06/2008 - 12:41h

celioishikawa, d+ seu artigo, cara
realmente, é um bom ponto para se debater
mas há todo o já citado problema da 'legalidade' dos projetos, e as leis para tal

bem, depois eu volto aqui,
Gilson



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