O ambiente desktop é o que pode sofrer os maiores impactos produtivos com a mudança da plataforma de trabalho.
Em quase todas as empresas, o ambiente de trabalho dos escritórios são suportados por micros contendo a dupla Windows / M$-Office. A maioria dos usuários estão plenamente adaptados a este ambiente de trabalho, sendo que uma mudança radical nos aplicativos Office, poderiam impactar na produtividade.
É necessário cautela no planejamento de migração de desktops para aplicativos Open Source.
O gerente de projeto deverá analisar os seguintes detalhes:
- É realmente necessário mudar o sistema operacional do desktop?
- Quais são as aplicações mais utilizadas pelo grupo de trabalho?
- É possível importar no OpenOffice a dos documentos elaborados em M$-Office?
- Existem usuários de aplicativos que não possuem similares em OpenSource? (ex: MS-Access)
- É possível portar algumas aplicações comuns para ambiente web?
- Será necessário quantas horas de treinamento para readaptar a equipe no novo ambiente produtivo?
- Haverá suporte adequado em hardware para o novo ambiente baseado em Open Source?
No ambiente de trabalho com diversos usuários desktops, deverá haver uma análise do perfil de aplicações dos usuários.
Tomaremos como exemplo, um escritório com cerca de trinta usuários desktops ligados em rede e você como o gerente de um projeto para implantação de softwares Open Source. Supomos que a maioria destes desktops foram equipamentos de "grife" adquiridos há quatro anos atrás, sendo a maioria deles Pentium III 450 com 64Mb e 4Gb de HD. O escritório adquiriu dez licenças de M$-Office 2000, mas na prática todas as estações estão com uma instalação completa do aplicativo (ou seja, temos 20 cópias "alternativas" do M$-Office).
Os equipamentos de "grife" já vem na maioria dos casos com o sistema operacional instalado. Há quatro anos atrás, ainda era comum os micros de "grife" virem instalados com uma licença de Win 98 ou ME, portanto a instalação de
Linux não seria propriamente uma necessidade, porém a diretoria da empresa determinou que os usuários não poderiam mais ter a liberdade de instalarem softwares "alheios" em seus desktops, assim como as cópias do M$-Office 2000 deveriam ser direcionadas somente aos usuários que realmente necessitam dos aplicativos, eliminando as instalações piratas.
O Win98 e ME não possuem nenhuma segurança com relação a instalação de aplicativos, portanto o usuário poderia de má fé, instalar a cópia do M$-Office alternativa, adquirida no camelô da esquina.
Após analisar o perfil de cada usuário, você conclui que:
- O sistema de cadastro de clientes e controle de chamados são acessados por todos os usuários e o mesmo foi desenvolvido em M$-Access. Como resolver esta situação? A solução seria portar o sistema para uma aplicação web. Você gastaria menos horas de trabalho, caso a aplicação seja portada para um servidor de intranet em IIS (pois não haveria problemas de migrar a base de dados Access mdb. Caso a diretoria queira fugir de uma aplicação proprietária (economizando licença com um Win2003 Server), o mesmo pode ser migrado para um servidor Linux com uma base de dados em Postgree, porém haveria um trabalho mais complexo na migração da base de dados.
- Os usuários que realmente necessitam do M$-Office são exatamente 10: três usuários da área comercial (elaboram propostas e recebem documentos em formato M$-Office de diversos fornecedores), dois usuários da área de vendas (estes elaboram apresentações em PowerPoint para clientes e possuem o histórico de vendas em Access), três usuários da área financeira cujas planilhas em Excel possuem inúmeras macros, o diretor da empresa e a sua secretária.
No caso acima onde o uso do M$-Office é indispensável, você mantém a instalação do aplicativo, direcionando as suas devidas licenças de uso. Para manter a segurança do ambiente, você também deve solicitar a compra de licenças upgrade do WinXP Professional que restringiria a instalação de aplicativos somente ao administrador da rede.
- No escritório há sete técnicos e engenheiros que são usuários de CAD com licenças originais. As estações de trabalho destes engenheiros possuem 256Mb de memória e eventualmente eles elaboram relatórios, porém estes utilizam apenas os recursos básicos do M$-Word.
Você também solicita a compra de upgrades de licenças para WinXP Professional para estas estações, após certificar-se que o software CAD é compatível com o sistema. Juntamente com o WinXP, é efetuado também a instalação do OpenOffice 1.1.
- Os demais usuários utilizam regularmente o M$-Office para trabalhos simples com pouca complexidade. Estes também são usuários regulares de internet e e-mail.
- Você observa curiosamente que há micros com muitos arquivos mp3 instalados, jogos como Quake 3 configurados para jogar em rede, diversos screen savers com os famosos spywares e outros "lixos" instalados pelos usuários. O diretor obviamente não quer ver mais nada disso instalado.
A solução é a mais obvia possível. Instale Linux nestes desktops!
Antes, deve-se providenciar a aquisição de memória extra aos desktops. Solicite a compra de módulos de 128Mb para cada estação.
Os usuários inicialmente não irão gostar do fato de não poderem mais jogar Quake 3 na rede :-p, porém o desktop configurado com KDE (ou até mesmo um FVWM95) é amigável o suficiente para que ele não fique totalmente perdido. O OpenOffice irá servir de forma eficiente na elaboração de documentos e apresentações simples, e nos acessos aos recursos como internet e email, não haverão muitos problemas com o uso do Mozilla e o cliente de email Ximian Evolution. Os usuários poderão ficar mais felizes pois com 128Mb adicionais, os aplicativos funcionarão mais rápidos (e sem spywares).
O caso acima é um exemplo fictício. Eu tentei me basear numa situação mais realista possível num ambiente de rede de pequeno porte.
Algumas dicas interessantes:
- Existem diferenças de compatibilidade entre os documentos elaborados em OpenOffice e M$-Office. Utilize o padrão PDF para distribuir os arquivos na rede, pois o OpenOffice é capaz de gerar arquivos nativos neste padrão.
- Elaborar apostilas e treinamento aos usuários é fundamental.
- Certifique-se que todo o hardware é compatível com as estações Linux.
- Os usuários não deverão ter acesso as senhas de root e administrador.
- Treine alguns "gurus" de Linux e OpenOffice em todos os departamentos. Isso evitará chamadas de suporte para casos mais simples.
- Retire o SUID de algumas ferramentas de rede nativas do Linux. Isto evitará que alguns usuários "espertinhos" causem transtornos.