Usos reais para um velho 386

Publicado por Sergio Teixeira - Linux User # 499126 em 12/11/2008

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Usos reais para um velho 386



Esta dica (ou levantamento de lebre) é decorrente da leitura de um texto escrito pelo próprio Steven Darnold, o desenvolvedor do Basic Linux.

Ali ele dizia que se depara constantemente com uma grande quantidade de computadores de diversas arquiteturas proprietárias, como Compaq, Packard Bell, HP e AT&T, com arranjos de placas-filha (subplacas) onde ficavam realmente os slots para periféricos - além, é claro, dos computadores chamados "normais".

(Nesse ponto acho que a Sindi Keesan (Estados Unidos) ganha dele disparado. Aparece cada tralha como "doação"... Acho que nesse caso o termo apropriado não seria "making a donation" mas "getting rid of", se é que me entendem.)

A maioria dos americanos está começando somente agora (2007-2008) a realmente jogar fora seus 386 e isso é um dado surpreendente e muito interessante, pois nós tupiniquins já o fizemos há bastante tempo!

(A título de exemplo, por aqui já é um tanto raro encontrarmos alguém que realmente utilize um Pentium 100 no seu dia-a-dia)

Segundo o Steven, um laptop 386, mesmo que tenha algum defeito (seja no teclado, ou na tela, por exemplo) pode ser perfeitamente usado com periféricos externos e dessa forma, pode-se conseguir um espaço ainda menor em cima da mesa, que se usarmos o imenso gabinete de um verdadeiro desktop.

Um uso sugerido para 386 com 4mb ram é de executar programas DOS, inclusive internet browsers como o antigo Netscape.

Podem ser usados editores como Wordperfect ou Wordstar para DOS e Win 3.1, e existe até mesmo um programa de CAD para DOS que roda até em VGA mono.

Para textos mais simples, sempre se pode contar com o Edit, do próprio DOS.

Pode-se conseguir na própria internet muitos bons joguinhos antigos para DOS e tirar nosso pobre 386 do "corredor da morte", transformando-o em uma "game machine" com um poder considerável.

Um 386 é bastante rápido, rodando em DOS.

Aqui no bairro onde moro tem um comerciante que usa um valente 386 dx-40 com uma impressora matricial LX-810 e um programa que ele mesmo desenvolveu em dBase para gerenciar sua loja/oficina de bicicletas.

Como um 386 não é muito exigente no quesito "refrigeração", é uma forma bastante inteligente de aproveitar esse tipo de máquina.

Quanto ao programa, não tem muitos detalhes de sofisticação, nada de telas bonitas ou de mensagens oportunas, mas dá conta do recado.

Contudo, para usar o Linux deve-se ter a sensatez de não desejar andar com o carro adiante dos bois.

As limitações do hardware (no tocante às tecnologias atuais) são muitas, portanto somente será viável trabalharmos em modo texto.

A esmagadora maioria das motherboards para 386 encontradas no Brasil permite a instalação de até 4MB RAM, se bem que é "possível" instalar 16MB, embora isso não seja exatamente "viável".

Um 386 com 16MB RAM - e rodando DOS - é um verdadeiro avião supersônico. Eu já vi uma rede (baseada em Novell) onde o servidor era um bichinho desses.

Porém, com alguma arte e a devida consulta às fontes mais acertadas (o VOL, por exemplo), pode-se usá-los como firewall, ou centrais de email, bem como compartilhar conexões dial-up.

A imaginação é o limite.

Quem sabe se os colegas do VOL não têm suas sugestões ou podem relatar seus próprios experimentos já concretizados?

Afinal, de McGuyver e de Professor Pardal (Gyro Gearloose) todos temos um pouco...

Por outro lado, confunde-se o termo "FulanoLinux roda em i386" (designação de uma arquitetura) com "FulanoLinux roda em um 386" (referindo-se especificamente ao processador Intel 80386).

Por causa dessa confusão, usuários novatos (e até mesmo alguns mais experientes) sentem-se desapontados com a maioria das distros que prometem atendê-los no quesito "HARDWARE LIMITADO", "VELHOS PCS" ou "MICROS ANTIGOS".

O pulo do gato:

Para funcionar corretamente em um "386 ancião", o kernel deverá ser da época das versões 2.2.x ou no máximo 2.4.x e devido à memoria RAM que é muito pequena, nem tente usar uma interface gráfica!

Por sua vez, os kernels mais atuais (2.6.x) funcionam muito bem com o tal i386 mas não com o processador 386 (formalmente "Intel 80386").

Até a próxima!

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Comentários
[1] Comentário enviado por removido em 13/11/2008 - 10:18h

maravilhoso esse texto,
me pareceu um túnel do tempo .....

[2] Comentário enviado por lopeston em 13/11/2008 - 14:01h

valeu cara, muito bom..
eu adoro resgatar os pc's antigos da vida, me lembro que meu primeiro pc foi um 386 dx40, haha,e era uma puta máquina.
é muito bom nos dias de hoje pegar essas maquinihas , instalar um linux e deixar o menino trabalhar, da gosto de ver ! e funciona que é uma beleza !!
valeu, abraços

[3] Comentário enviado por Teixeira em 13/11/2008 - 22:54h

Em termos de IBM-PC, o meu primeiro foi um imenso e pesadíssimo desktop XT (eXtended Technology) ,
precursor do AT 286 (Advanced Technology), que antecedeu os 386 e daí por diante.
O Linux foi lançado exatamente na ocasião de aproveitar todos os detalhes que a tecnologia do 386 possibilitava.
Mas eu não conheci o Linux naquela época.
Portanto, até o 286 eu trabalhava em MS-DOS, modo texto - a famosa tela preta com letras verdes ou brancas; mas nós ganhamos um monitor Samsung que era âmbar sobre fundo preto.
Muito melhor para economizar a vista, porém não apresentava meios-tons.
Bem, não se pode ganhar sempre.

É interessante notar que os computadores "PC" da IBM (propriamente ditos) não vieram para o Brasil, pelo menos em uma escala considerável.
Eram bastante limitados, e sua fonte de alimentação tinha apenas 63 Watts.
Depois deles apareceram os tais "Peanut" (amendoim, em Inglês) já com teclado usando infravermelho.
O projeto foi abandonado, pois dois Peanuts no mesmo ambiente formavam a maior confusão. E esses também ficaram para lá e não vieram para as terras tupiniquins.


[4] Comentário enviado por gregh em 22/12/2008 - 23:26h

Bom artigo.
Gostei do: A IMAGINACAO E O LIMITE!

[5] Comentário enviado por Teixeira em 24/12/2008 - 09:10h

Trabalhei diretamente com duas redes baseadas em 386 rodando programas em Clipper Summer '87.
Em uma delas o cliente era uma administradora de rede de farmácias e drogarias e na outra o cliente
era uma distribuidora de descartáveis.
Durante o tempo em que estive por lá essas redes nunca deram pau (sorte minha!).

Não existe nada melhor para editar um texto que no Word 6.0 (a meu ver o mais simples, honesto e eficiente de
todos, e que não dava pau de jeito nenhum).
Naquele Word podíamos criar uma célula de tabela em degradê. Mas essa possibilidade perdeu-se nos demais.
E o que ganhamos em troca? Nada. Os "words" que se seguiram vieram cada vez mais cheios de frescuras inúteis
e incompatibilidades irritantes.
A finalidade principal (EDITAR TEXTO) está-se perdendo a cada dia, em benefício de uma apresentação meramente
cosmética.

Note-se que uma rede com aplicativos comerciais opera com dados preciosos, sendo portanto um tanto crítica.
Mas naquela época os 386 já se desincumbiam extremamente bem dessas tarefas delicadas em si, mas que exigem
robustez e confiabilidade do hardware.

Quanto aos jogos, na internet existem inúmeros sites que oferecem-nos para download em grandes quantidades.
Alguns desses jogos são bastante complexos, contudo bastante pequenos e rápidos.

[6] Comentário enviado por jarlisson em 16/07/2012 - 14:16h

Já ouvi falar de antigos computadores que estão há anos funcionando como servidores, sem nunca terem sido reiniciados ou terem dado problema.

PS: sério que o comerciante mesmo desenvolveu o programa?

O Linus descrevia aquela época como "when men were men and wrote their own device drivers"

[7] Comentário enviado por Teixeira em 17/07/2012 - 13:59h

Sim, o cidadão aprendeu a desenvolver em dBaseIII e daí para o Clipper Summer '87 a migração era muito tranquila, pois praticamente não se precisava aprender nada a mais.
Depois que o Clipper saiu das mãos da Nantucket e foi para a Computer Associates, deixou de ser o "compilador oficial do dBase" para ser algo com vida própria, e já então, com novos conceitos, exigindo um pouco mais de aprendizado.
O tal programa da "Help of Bike" não tem nada de vistoso, nem em telas nem em formulários de impressão primorosos, que seriam extremamente fáceis de desenvolver.
Mas funciona bem há muitos anos, até hoje.

Programar em Clipper Summer '87 é desconcertantemente simples e até viciante.
Algo que se levaria uma semana inteira para fazer em Cobol, ficava totalmente pronto em meia hora.
Se houvesse erro na elaboração de um arquivo, por exemplo, bastava redesenhá-lo e botar para funcionar.
Não precisava reescrever aqueles programas imensos.



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