Teixeira
(usa Linux Mint)
Enviado em 08/09/2013 - 19:52h
A resposta a seguir cobre apenas um ângulo da questão, mas é a que considero mais relevante:
Antigamente a produção de processadores era muito dispendiosa, e não havia perspectiva alguma de a computação - de qualquer forma - chegar aos lares.
O conceito de home computing simplesmente não existia.
Mas então surgiu uma empresa chamada Zilog que um dia conseguiu lançar um pequeno e econômico processador, batizado com o nome de Z-80.
Foi esse processador o responsável pela chegada dos computadores, mesmo ainda muito caros, às casas de uma pequena elite.
Muitas empresas como a TRS Radio Schack, a Atari e a Commodore fizeram excelentes projetos baseados nesse processador.
No princípio tudo era muito primitivo e os meios de armazenamento eram muito precários (fita cassette, disco flexível de 8").
Não havia sistemas operacionais da forma como os conhecemos hoje, mas apenas a firmware gravada em ROM (ou EPROM).
O inglês Sir Clive sinclair desenvolveu alguns modelos de micros pessoais bastante simplificados, onde toda a sofisticação ficava por conta de um software primoroso e elegante: o Basic Sinclair!
No entanto, tudo isso era muito bom para joguinhos, e em 1980, no tocante às aplicações chamadas "sérias", podíamos fazer agenda de telefones, inventários de livros, discos, etc., limitados ao tamanho da memória disponível, algo hoje considerado ridículo, algo como 1 KiloByte!
Também dava para fazer os cálculos de uma folha de pagamento (não a folha em si, por causa do limite da memória).
Finanças pessoais, ok.
Ninguém tem ainda hoje em dia um "contas a pagar" e/ou um "contas a receber" de natureza pessoal, que seja tão extenso que não possa ser controlado por uma máquina dessas.
Conciliação bancária simples, ok, desde que não se desejasse manter registro das transações.
E, claro, aqueles bichinhos se prestavam muito bem para fazer simulações.
Como eram programáveis em linguagem Assembly, e o Z-80 possui o mais fácil repertório de comandos entre a maioria dos processadores conhecidos, uma parte dos usuários se dedicava a ficar cavando conhecimentos sobre Assembly nas raras publicações existentes na época, revistas em geral um pouco mais caras que o normal.
Porém, como tudo evolui, começaram a surgir os aperfeiçoamentos e os fabricantes de outros processadores, como o Motorola 6502, que inspirou Wozniak e Jobs a fazerem o primeiro Apple.
Foi também o Z-80 que possibilitou à Microsoft ser o que é hoje em dia: Foi a "Micro-Soft" quem escreveu o dialeto Basic para o Commodore, o Amiga e o TRS-80 da Radio Schack.
Por isso, foi igualmente escolhida para escrever para o Apple do "The Woz" e do Jobs.
Pronto: Estava a "Micro-Soft" consolidada como empresa especializada em dialetos basic específicos para fabricantes considerados importantes (se bem que o dialeto não se encaixou bem no 6502, e aquela versão do Basic ficou bastante capenga).
Com o passar dos tempos foram surgindo bem devagar tudo aquilo que estava faltando: Meios de armazenamento, placas extensoras de memória (que trabalhavam por paginação), etc.
Foi quando Gary Kildall desenvolveu o gerenciador conhecido como CP/M e fundou a Digital Research, responsável pela idéia do DOS.
Esse CP/M permitia que um pequeno micro tal como um Apple, um Commodore, um Amiga ou principalmente os TRS80 (e seus inúmeros clones) fizessem um processamento já "de gente grande", possibilitando atuar sobre todas as rotinas comerciais e/ou industriais.
Foi quando a Intel conseguiu lançar o 8086 (com todo o repertório de comandos do Z-80, que continua até os dias de hoje), que era um computador que lia dois bytes de cada vez.
A IBM então fez o IBM-PC (ainda não o XT), com base nesse processador.
Estrategicamente, foi anunciado às multidões que era um computador de 16 bits.
Ninguém sabia o que isso realmente significava, mas soava bem.
Um esclarecimento: A IBM jamais trouxe os PCs para o Brasil, por isso conhecemos apenas do XT em diante.
Não perdemos nada, porque o PC tinha apenas 64kB de memória RAM e tinha uma fonte de 63 Watts.
Eles também lançaram o Peanut (amendoim), ótimo para eremitas, com seu teclado sem fio - porém baseado em infravermelho - o que criava uma forte interferência caso houvesse mais de um Peanut no recinto.
Livrando-se dos micos, a IBM consolidou sua soberania no mercado de micros pessoais, acabando com a "era dos 8 bits".
Bem o IBM também tinha sua versão do CP/M (agora CP/M-86) e que funcionava muito bem, porém desejou ter o seu próprio sistema operacional (esse termo não existia até então).
Um sistema operacional serviria exclusivamente para controlar o uso de periféricos, coisa que nos computadores de médio e grande portes era feita através de Index Registers.
O nome formal era Disk Operating System, ou "sistema operacional de disco".
Depois disso, vem a parte em que a Digital Research perdeu a concorrência que já estava praticamente em suas mãos, e onde foi vencedora a empresa do Tio Bill, que passou a ser chamar Microsoft, agora já sem o hífen.
Então basicamente os principais fatores para que a computação chegasse efetivamente até os nosso lares foram
- o advento do Z-80 e sua aceitação por parte de fabricantes importantes.
- o advento do CP/M.
Se essas outras coisas não houvessem ocorrido, bastavam esses dois fatores para que pudéssemos, mesmo com toda a eventual precariedade, ter computadores em casa.
Daí em diante, são fatores esparsos que no entanto ajudaram a dar ao caso novas perspectivas e direções.