lcavalheiro
(usa Slackware)
Enviado em 21/11/2015 - 12:45h
Curiosamente, sempre que se fala de Slackware a sério aqui no VOL as pessoas se lembram de mim. Deve ser porque eu uso a distro há meros dezenove anos... Enfim, vou contar uma historinha pros mais novos, e já de antemão eu peço desculpas se eu encher a paciência dos demais...
Em 1996 existiam algumas distribuições por aí, mas o Slackware era reputada como a mais fácil de todas. Curioso, não? Sabem qual era a facilidade que ela oferecia? Não ter gerenciador de dependências. Em uma época em que internet era algo caro e de difícil acesso (não só por aqui mas em muitos países também), ter um sistema operacional que precisava de conexão com a internet para baixar 1E+20 pacotes para instalar um simples navegador não era viável. Com o Slackware as pessoas baixavam apenas o código-fonte das dependências que realmente pretendessem usar, e compilavam tudo conforme sua disponibilidade. Quem era micreiro na época sabe que para compilar uma coisa simples, tipo um links com suporte a framebuffer habilitado, poderia levar a noite toda, e dificilmente você conseguiria fazer algo no computador enquanto compilasse.
Nessa época o Slackware era a distribuição mais usada. Estima-se que em 1998 cerca de 60% das máquinas GNU/Linux rodavam Slackware - um feito considerado meritoso até mesmo por rms, famoso por criticar o Slackware em alguns pontos. Nessa época escreveu-se muita documentação, ainda que boa parte tenha se perdido em virtude da queda da relevância dos antigos BBS. Mas muito material sobreviveu, e aí é que está a grande graça da distribuição: boa parte dessa documentação ainda é válida.
Outro ponto: a comunidade slacker diminuiu com o boom da internet. O que era uma vantagem nos anos de internet ruim se tornou algo que as massas condenavam em tempos de melhor acesso à rede. Migrou-se em massa para os ajuntados de bits como o Ubuntu e o Fedora Core (hoje apenas Fedora), que prometiam facilidade ao custo (hoje sabemos) da estabilidade. E hoje é esse o cenário.
Qual é o ponto da história? Simples. Um slacker nasce slacker. Não adianta fazer propaganda, não adianta divulgar a distro, ela não tem apelo para os mais jovens, em sua maioria padecendo de cérebros congelados por Facebook, WhatsApp e o algoritmo Redmond adotado pelo Ubuntu e pelo Fedora (
$ until [ brain rot ] ; do click NEXT ; done ; click INSTALL). Ela não tem apelo para uma geração que não sabe entender o que lê. Ela não tem apelo para quem gosta de soluções prontas. Ela não tem apelo para quem gosta de videotutoriais. Ela não tem apelo para quem quer soluções prontas.
Então para quem é o Slackware? É para quem pensa de maneira autônoma, é para quem não depende de uma sociedade para lhe dizer quem ser ou o que pensar. É para quem sabe ler e não tem preguiça de pensar ou de por em prática o que entendeu. É para seres humanos autônomos e plenos, não para as sombras pelas quais esbarramos no nosso dia-a-dia, sombras travestidas de carne e osso mas ocas como a mente que as anima.
Precisamos de propaganda, precisamos de relevância? Não sei. A comunidade slacker internacional é muito ativa. Em #slackware no irc.freenode.net estamos muito presentes (por lá eu atendo como luisfcc86, meu nome público no IRC), aqui no VOL somos ativos e resolvemos dúvidas até mesmo de outras distribuições. Nossas contribuições sempre são relevantes. E nosso ego é famoso por ser maior do que o Sistema Solar, mas esse é o privilégio magno dos slackers.
Tergiverso. O VOL é um ótimo canal para as discussões sobre o Slackware, e bem que poderíamos criar um canal no Freenode para os slackers do VOL. Sei lá. Há formas de se comunicar, há formas de contribuir. Divulgar o VOL é uma delas. Contribuir com material sobre o Slackware é outra. E por aí vai.
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Luís Fernando Carvalho Cavalheiro
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Só Slackware é GNU/Linux e Patrick Volkerding é o seu Profeta