"Minhocas", Filosofia, Habilidades e Futuro

13. Re:

José
DeuRuimDotCom

(usa Linux Mint)

Enviado em 04/05/2019 - 22:41h

clodoaldops escreveu:
Trate os outros como gostaria de ser tratado
Não faça aos outros o que não gostaria que fizessem para você
Duas regras simples que evitam muitos aborrecimentos


Há uma anedota que diz o seguinte: Deus desce à Terra e diz para Joãozinho pedir o que quiser, esclarecendo que tudo que pedir, será dado em dobro ao seu vizinho. Joãozinho pensa um pouco mas não demora a decidir: Senhor, me arranque fora um olho!


  


14. Re:

Paulo
paulo1205

(usa Ubuntu)

Enviado em 05/05/2019 - 01:33h

DeuRuimDotCom escreveu:

"Ortodoxia" é um exemplo acabado e perfeito de que a verdadeira filosofia "não serve pra nada". Explico: falei em "verdadeira filosofia" porque lá se lê alguém que efetivamente deu à sua época vislumbres do que viriam a ser as infaustas conseqüências das idéias coletivistas, relativistas etc então em voga, contra as quais, por ex., Dostoiévski já havia se batido. E concluí que "não serve pra nada" porque, primeiramente e mais óbvio, esses vislumbres não impediram as abominações cometidas, mas também porque, em segundo lugar, é preciso reconhecer que não se consegue controlar a história. Não há nada mais pueril do que achar que boas idéias irão colar na cabeça pessoas e fazer com que elas passem a agir como gado. Aliás, crenças em engenharias sociais vão de encontro ao pensamento do próprio Chesterton.


Não sei se entendi bem o que você quer dizer. Parece-me que você crê que não se ter conseguido evitar todas as consequências nefastas antevistas da aplicação em massa de princípios ruins, então todo o esforço despendido em combatê-los foi absolutamente inútil.

Não sei se é o caso. Sei que é uma pergunta especulativa, e até inútil, mas não consigo evitar fazê-la a mim mesmo: será que se tivesse havido vozes de denúncia, essas consequências não teriam sido ainda piores?

Será que aqueles que denunciam filosofias ruins hoje não conseguem, pelo seu esforço, tirar pelo menos algumas pessoas das consequências nocivas que a aplicação de suas furadas premissas?

Eu creio sinceramente que um pai ou uma mãe amorosos não desistem de aconselhar seus filhos a fazer o que é certo, mesmo depois de muitas ocasiões em que os viram dar as costas aos bons conselhos de outrora, mesmo que — ou especialmente quando — essa eventual rejeição lhes tenha custado caro. Às vezes, o filho escuta. E, de vez em quando, mesmo o filho mais rebelde pode vir a se converter da sua rebeldia.

De modo semelhante, aqueles que enxergam no potencial humano (ou porque creem que ainda há no homem algo da imago Dei ou por qualquer outro motivo) algo para além da satisfação de desejos mesquinhos, de instintos animalescos ou mesmo da resignação a vidas medíocres e sem propósito podem até não conseguir alcançar todas as pessoas, mas provavelmente alcançam alguns, e isso com certeza é melhor que nada.

E não creio que quem queira ver o potencial humano realizado imagine que essa realização levaria a agir como gado ou seria consequência de engenharia social. Parece-me justamente o contrário: a vida próxima ao pleno potencial é justamente o resgate da condição sub-humana, ou como você disse, de “gado”, conduzido por quem possivelmente se beneficie dessa condição de potencial não-realizado e de vida sem propósito próprio.

paulo1205 escreveu:
Verdades universais há, sim, mesmo que desconhecidas ou que ostensivamente negadas, a despeito de montanhas de evidências que possam ter, apenas porque são inconvenientes para muitos.


Todavia, se fulminou o relativismo ingênuo do forista, não percebeu que o mesmo veneno poderia ser usado contra você: Se admite que são desconhecidas, como sabe que existem essas tais verdades absolutas? Como reconhecer uma quando uma nos aparece? E como se daria a certificação dessa certificação? E a certificação da certificação da certificação...?


Não admito que são desconhecidas. Em todo o período, minha intenção era expor o ponto de vista do relativista. A hipótese benevolente, que eu considero altamente improvável, a não ser para alguém muito ingênuo e totalmente destreinado, seria a do desconhecimento por ignorância. Mas a hipótese que eu considero mais provável é a segunda, de que relativistas negam ostensivamente verdades universais que, no fundo, sabem ser verdadeiras, apenas porque inconvenientes para si, ao apontar suas imperfeições e vícios.


... “Principium sapientiae timor Domini, et scientia sanctorum prudentia.” (Proverbia 9:10)


15. Re:

Andre (pinduvoz)
pinduvoz

(usa Debian)

Enviado em 05/05/2019 - 07:58h

clodoaldops escreveu:

Trate os outros como gostaria de ser tratado
Não faça aos outros o que não gostaria que fizessem para você
Duas regras simples que evitam muitos aborrecimentos



Se pensarmos bem, todas as demais regras de convivência social têm relação com as duas que o clodoaldops arrolou.

Numa sociedade organizada, temos vários tipos de regras, das quais sobressaem as regras jurídicas, pois dotadas de sanção estatal. Mas não podemos esquecer que regras puramente morais possuem uma sanção social relevante, que muitas vezes supera a própria sanção estatal no que tange a causar "desconforto ao violador". Quantos não são linchados pelo público e morrem antes de a polícia conseguir colocar as mãos neles? O linchamento, que também é crime e obviamente viola a primeira regra do clodoaldops (quem quer ser linchado?), não passa de uma sanção moral violenta que pode atingir tanto um culpado quanto um inocente.

Resumindo, criamos leis e todo um sistema de aplicação delas que transfere o poder de agir ao Estado (nos resta apenas a "legítima defesa" e a necessidade premente, ou "estado de necessidade"). Temos que confiar e apoiar esse estado de coisas "civilizado", fazendo a nossa parte como cidadãos não do Brasil, mas do mundo. E para fazermos isso basta seguir as duas regrinhas do amigo clodoaldops.

__________________________________
Linux Registered User nº 439378
Ubuntu Forum Member Since Nov/07/2006
VOL Member SInce Jul/01/2008



16. Re: "Minhocas", Filosofia, Habilidades e Futuro

José
DeuRuimDotCom

(usa Linux Mint)

Enviado em 05/05/2019 - 14:27h

paulo1205 escreveu:
Não sei se entendi bem o que você quer dizer. Parece-me que você crê que não se ter conseguido evitar todas as consequências nefastas antevistas da aplicação em massa de princípios ruins, então todo o esforço despendido em combatê-los foi absolutamente inútil.
Não sei se é o caso. Sei que é uma pergunta especulativa, e até inútil, mas não consigo evitar fazê-la a mim mesmo: será que se tivesse havido vozes de denúncia, essas consequências não teriam sido ainda piores?
Será que aqueles que denunciam filosofias ruins hoje não conseguem, pelo seu esforço, tirar pelo menos algumas pessoas das consequências nocivas que a aplicação de suas furadas premissas?
Eu creio sinceramente que um pai ou uma mãe amorosos não desistem de aconselhar seus filhos a fazer o que é certo, mesmo depois de muitas ocasiões em que os viram dar as costas aos bons conselhos de outrora, mesmo que — ou especialmente quando — essa eventual rejeição lhes tenha custado caro. Às vezes, o filho escuta. E, de vez em quando, mesmo o filho mais rebelde pode vir a se converter da sua rebeldia.
De modo semelhante, aqueles que enxergam no potencial humano (ou porque creem que ainda há no homem algo da imago Dei ou por qualquer outro motivo) algo para além da satisfação de desejos mesquinhos, de instintos animalescos ou mesmo da resignação a vidas medíocres e sem propósito podem até não conseguir alcançar todas as pessoas, mas provavelmente alcançam alguns, e isso com certeza é melhor que nada.
E não creio que quem queira ver o potencial humano realizado imagine que essa realização levaria a agir como gado ou seria consequência de engenharia social. Parece-me justamente o contrário: a vida próxima ao pleno potencial é justamente o resgate da condição sub-humana, ou como você disse, de “gado”, conduzido por quem possivelmente se beneficie dessa condição de potencial não-realizado e de vida sem propósito próprio.

Tentei justificar, no contexto do livro citado, por que "a filosofia não serve pra nada", e dei dois motivos:
O primeiro, que chamaria de fraco, tratar-se-ia do quão impotente seria uma idéia genuinamente filosófica no curso da história. Ora, uma idéia genuinamente filosófica pressupõe necessariamente contrariar o senso comum. Não há fazer filosófico genuíno onde não há contestação (por favor, não pense que me refiro a uma contestação vazia, por si, anos 60, contracultura e tal), onde não haja teses que pelo menos tragam um novo e original enfoque em contraposição à visão comum das coisas. Onde não há filosofia, há replicação de idéias etc. Idéias genuinamente filosóficas surgem em contextos restritíssimos, são em geral combatidas e mal compreendidas, como as idéias inovadoras da ciência no geral, demoram a se espalhar (quando raramente acontece de espalharem...) e chegam à maioria das pessoas por osmose, sem o mínimo de reflexão, pois reflexão demanda tempo, que as pessoas não têm ou não querem dedicar a isso.
Então não estou a dizer que idéias não importam, quero dizer que, no geral, o que se vê é, sim, comportamento de manada (ação sem reflexão, sem contestação) como o fator humano preponderante a influenciar os rumos da história. (Se o fator humano prepondera sobre outros, naturais, geográficos etc., já é outra conversa...) Dito doutro modo e em resumo, política se faz, sim, com idéias, mas o tratamento e o destino que se dá às idéias no contexto político não é o mesmo que num contexto genuinamente filosófico.
Quando você diz que denunciar filosofias ruins poderia amenizar conseqüências ruins, pressupõe, ao menos subjacentemente, a existência de um juízo universal e absoluto ao qual se poderia recorrer a fim de determinar a superioridade de idéias sobre outras. Como diria Pe. Quevedo, isso non ecziste! O que dá seria talvez aprender com o passado... sempre com o passado... o que não difere, se pensar bem, do contexto das ciências empíricas, onde o juízo universal de certificação das teorias se dá na fase de experimentação, o que implica que toda teoria científica é validada por um fato passado. Mas divago.
O segundo motivo, que chamaria de forte, diz dos perigos que podem advir da idéia de que idéias podem "mudar o mundo", "tornar o mundo melhor", "viver o paraíso terreno" etc. Claro que engenharias sociais demandam poder concentrado e, por conseguinte, tirania; e nada há de mais brutal no mundo do que um estado tirânico. Esse é o perigo óbvio. Mas não é só. Falo também do imponderável. A modernidade tirou o imponderável da equação. Leia qualquer tragédia grega e verá o homem sendo espezinhado pelos deuses como uma marionete. O mito da modernidade é a ilusão de controle. Pensar que se podem fabricar idéias que levariam à felicidade geral é brincar de aprendiz de feiticeiro e inevitavelmente se dar mal ou fazer os outros se darem mal, que é o que sói acontecer.
E veja bem: Não é que eu seja contra ensinar aos filhos o bom, o belo e o justo (quando os tiver, ensinar-lhos-ei, lógico, se até lá descobrir o que são...rsrs). Todavia, quando se supõe ensinar o bom, o belo e o justo, supõe-se automaticamente que as conseqüências disso serão boas e que serão ruins apenas no caso de o educando não seguir tais princípios. Ou que, diante de boas conseqüências, conclui-se também automaticamente que isso teria se devido ao ensino e aprendizado do bom, do belo e do justo. Estou a dizer que isso é uma ilusão derivada de um pensamento tautológico, mais propriamente uma petição de princípio ou a assunção da falácia post hoc ergo propter hoc. Não temos garantia nenhuma de que o bom, o belo e o justo no mundo das idéias levem ao bom, ao belo e ao justo no mundo da práxis.
Desculpe, isso aqui ficou grande demais, mas fui escrevendo, escrevendo e quando vi já estava desse tamanho rsrs

paulo1205 escreveu:
Não admito que são desconhecidas. Em todo o período, minha intenção era expor o ponto de vista do relativista. A hipótese benevolente, que eu considero altamente improvável, a não ser para alguém muito ingênuo e totalmente destreinado, seria a do desconhecimento por ignorância. Mas a hipótese que eu considero mais provável é a segunda, de que relativistas negam ostensivamente verdades universais que, no fundo, sabem ser verdadeiras, apenas porque inconvenientes para si, ao apontar suas imperfeições e vícios.

De fato, tinha entendido mal o que escreveu. Você não assumiu que são desconhecidas, reconheço agora.
Mas isso não responde às minhas indagações principais: Como reconhecer uma verdade absoluta quando uma nos aparece? E como se daria a certificação dessa certificação? E a certificação da certificação da certificação...?
A essas, poderia acrescer as seguintes: quem garante que verdades absolutas sejam boas por si e que o melhor seja não ignorá-las? Nesse passo, acho que está a confundir ética (mundo do dever-ser) com ciência (mundo do ser). Digo, verdades deveriam ser neutras, isentas de carga moral, não concorda?




17. Re: "Minhocas", Filosofia, Habilidades e Futuro

José
DeuRuimDotCom

(usa Linux Mint)

Enviado em 05/05/2019 - 14:32h

pinduvoz escreveu:
Temos que confiar e apoiar esse estado de coisas "civilizado", fazendo a nossa parte como cidadãos não do Brasil, mas do mundo.


Temos mesmo? Confiar em alguém só porque tem um carimbo ou um papel carimbado qualquer nas mãos ou veste uma farda ou coisa do tipo?
Com a devida vênia, acho que devemos desconfiar até da própria sombra.




18. Re:

Paulo
paulo1205

(usa Ubuntu)

Enviado em 08/05/2019 - 01:56h

DeuRuimDotCom escreveu:

Tentei justificar, no contexto do livro citado, por que "a filosofia não serve pra nada", e dei dois motivos:
O primeiro, que chamaria de fraco, tratar-se-ia do quão impotente seria uma idéia genuinamente filosófica no curso da história. Ora, uma idéia genuinamente filosófica pressupõe necessariamente contrariar o senso comum. Não há fazer filosófico genuíno onde não há contestação (por favor, não pense que me refiro a uma contestação vazia, por si, anos 60, contracultura e tal), onde não haja teses que pelo menos tragam um novo e original enfoque em contraposição à visão comum das coisas. Onde não há filosofia, há replicação de idéias etc. Idéias genuinamente filosóficas surgem em contextos restritíssimos, são em geral combatidas e mal compreendidas, como as idéias inovadoras da ciência no geral, demoram a se espalhar (quando raramente acontece de espalharem...) e chegam à maioria das pessoas por osmose, sem o mínimo de reflexão, pois reflexão demanda tempo, que as pessoas não têm ou não querem dedicar a isso.


Não sei se concordo muito com isso. Será que a filosofia inovadora tem sempre de contestar? Não seria uma obra filosófica valiosa aquela que encontrasse novas razões epistemológicas ou ontológicas, além de todas as anteriormente conhecidas, para validar certa ideia X?

“Necessariamente contrariar o senso comum” me parece muito forte, ainda mais como pressuposto. É como escolher ou orientar a conclusão antes da investigação. Questionar o senso comum me parece válido. Pô-lo sempre à prova soa razoável. Falseá-lo, no sentido popperiano do termo, é desejável e louvável.

Contrariá-lo, porém, principalmente a priori, é insensato por definição (pelo menos até que o senso comum corrente seja substituído por um novo senso comum).

Então não estou a dizer que idéias não importam, quero dizer que, no geral, o que se vê é, sim, comportamento de manada (ação sem reflexão, sem contestação) como o fator humano preponderante a influenciar os rumos da história. (Se o fator humano prepondera sobre outros, naturais, geográficos etc., já é outra conversa...) Dito doutro modo e em resumo, política se faz, sim, com idéias, mas o tratamento e o destino que se dá às idéias no contexto político não é o mesmo que num contexto genuinamente filosófico.


“Genuinamente filosófico” não é algo que eu possa discutir, porque filosofia não é uma área em que eu tenha estudos bastantes para me considerar minimamente à vontade.

Mas isso não significa que eu não possa apontar com clareza alguns erros flagrantemente grosseiros, tal como uma premissa que contradiz a si própria, e a atribuição do rótulo de “filosofia” ao estilo de vida que escolhe esse absurdo lógico como fundamento. Para tanto, para além do senso comum, basta um pouquinho de experiência de vida e um minimo de leitura sã.

Quando eu sugeri “Ortodoxia” ao público do canal, a intenção não era revelar uma obra genuinamente filosófica, mas oferecer uma referência acessível a pessoas tão pouco treinadas quanto eu mesmo, e que, em primeiro lugar, mostra a não-originalidade de certas ideias; que, em segundo, critica de modo bastante claro e didático muitas dessas ideias, mostrando a razão pelas quais tais ideias são ruins e não devem ser tomadas por seu valor de face, a despeito de qualquer modismo que possa haver em torno delas; em terceiro, porque os meios quase triviais usados na crítica dessas ideias podem ser facilmente aplicados a muitas outras, ajudando o eventual leitor a não ser levado de um lado a outro por “todo vento de doutrina”.

Quando você diz que denunciar filosofias ruins poderia amenizar conseqüências ruins, pressupõe, ao menos subjacentemente, a existência de um juízo universal e absoluto ao qual se poderia recorrer a fim de determinar a superioridade de idéias sobre outras. Como diria Pe. Quevedo, isso non ecziste! O que dá seria talvez aprender com o passado... sempre com o passado... o que não difere, se pensar bem, do contexto das ciências empíricas, onde o juízo universal de certificação das teorias se dá na fase de experimentação, o que implica que toda teoria científica é validada por um fato passado. Mas divago.


Um possível quarto motivo para Ortodoxia é que eu, assim como Chesterton, acredito, sim, num juízo universal e absoluto — ou, antes, num Juiz absoluto e em Leis universais pelas quais Ele julga.

Quanto a toda teoria científica ser validada por fatos passados, não sei se é o caso. Mas não vou aqui começar a discorrer sobre falseabilidade porque não conheço Popper tão profundamente para afirmar com certeza de que ele discordaria dessa colocação. Até gostaria de fazê-lo, mas está além das minhas sandálias, por enquanto.

O segundo motivo, que chamaria de forte, diz dos perigos que podem advir da idéia de que idéias podem "mudar o mundo", "tornar o mundo melhor", "viver o paraíso terreno" etc. Claro que engenharias sociais demandam poder concentrado e, por conseguinte, tirania; e nada há de mais brutal no mundo do que um estado tirânico. Esse é o perigo óbvio. Mas não é só. Falo também do imponderável. A modernidade tirou o imponderável da equação. Leia qualquer tragédia grega e verá o homem sendo espezinhado pelos deuses como uma marionete. O mito da modernidade é a ilusão de controle. Pensar que se podem fabricar idéias que levariam à felicidade geral é brincar de aprendiz de feiticeiro e inevitavelmente se dar mal ou fazer os outros se darem mal, que é o que sói acontecer.


Nisto concordamos plenamente.

E veja bem: Não é que eu seja contra ensinar aos filhos o bom, o belo e o justo (quando os tiver, ensinar-lhos-ei, lógico, se até lá descobrir o que são...rsrs). Todavia, quando se supõe ensinar o bom, o belo e o justo, supõe-se automaticamente que as conseqüências disso serão boas e que serão ruins apenas no caso de o educando não seguir tais princípios. Ou que, diante de boas conseqüências, conclui-se também automaticamente que isso teria se devido ao ensino e aprendizado do bom, do belo e do justo. Estou a dizer que isso é uma ilusão derivada de um pensamento tautológico, mais propriamente uma petição de princípio ou a assunção da falácia post hoc ergo propter hoc. Não temos garantia nenhuma de que o bom, o belo e o justo no mundo das idéias levem ao bom, ao belo e ao justo no mundo da práxis.


De novo, concordo plenamente. E não sei nem se se pode dizer que isso é imponderável, no sentido de “completamente inesperado”.

Quero dizer: eu tenho plena consciência de que o fato de que o zelo de procurar ensinar minha filha a agir de modo justo, cordial, generoso e bondoso não é uma garantia de que, no futuro, ela não possa se tornar (ou que não esteja latente em sua índole) uma mulher egoísta, mesquinha e má. Mas existe aquela tendência no comportamento humano de, em maior ou menor grau, dar daquilo de que recebeu, falar daquilo de que ouvir, escrever do que também leu. É uma tendência meio automática, portanto meio irracional ou afilosófica, mas não menos humana.

E aqui também eu divago.

Creio porém que a compreensão da natureza daquilo que está sendo recebido pode funcionar como um filtro ou um amplificador daquilo que será reproduzido ou mesmo transformado. Minha esperança não é a de que pessoas façam o bem apenas por imitação de outros benfeitores, mas porque entendem que e por que é bom fazer o bem.

Desculpe, isso aqui ficou grande demais, mas fui escrevendo, escrevendo e quando vi já estava desse tamanho rsrs


Sem problema. Ficar falando só de linguagem C a vida inteira não teria graça.

De fato, tinha entendido mal o que escreveu. Você não assumiu que são desconhecidas, reconheço agora.
Mas isso não responde às minhas indagações principais: Como reconhecer uma verdade absoluta quando uma nos aparece? E como se daria a certificação dessa certificação? E a certificação da certificação da certificação...?
A essas, poderia acrescer as seguintes: quem garante que verdades absolutas sejam boas por si e que o melhor seja não ignorá-las? Nesse passo, acho que está a confundir ética (mundo do dever-ser) com ciência (mundo do ser). Digo, verdades deveriam ser neutras, isentas de carga moral, não concorda?


Mais fácil é descobrir as que são flagrantemente falsas, como quase tudo o que é ligado ao relativismo, com suas premissas que se autodestroem.

Fora disso, não me sinto habilitado nem mesmo a divagar muito, pois me falta bagagem.

Para algumas afirmações lógicas e matemáticas, existem ferramentas da Lógica e da Matemática. Mas mesmo nesses domínios é bem possível que nem tudo possa ser provado, mesmo quando tem resultados úteis. Em outras áreas, pode ser mais difícil ainda.

Mas o contexto original da discussão era o de estilo de vida e de visão de mundo. A esse respeito, há casos como aquele acima, que são prontamente refutáveis por conta de suas más premissas, e para os demais há abordagens para pelo menos classificar de modo relativo sua plausibilidade e razoabilidade. Por exemplo, o apologista cristão Ravi Zacharias costuma divulgar o que ele chama de 1-2-3-4-5 Worldview Grid, assim decomposto:

  • uma meta: a verdade;
  • duas abordagens para a verdade: correspondência (à realidade) e coerência (interna);
  • três testes da verdade: consistência lógica, adequação empírica e relevância experiencial;
  • quatro perguntas a responder: origem, sentido, moralidade e destino;
  • cinco disciplinas a estudar: Teologia (Deus), Metafísica (realidade), Epistemologia (conhecimento), Ética (moralidade) e Antropologia (homem).

Para os melhores resultados, não é algo que se faz depois de ter lido apenas um livrinho comprado no supermercado ou na banca de jornais. De minha própria lavra, sendo eu tão pouco versado em Filosofia, não tenho resultados bons para mostrar. Mas mesmo gente simples como eu pode usar os mesmos cinco critérios para descartar alguns dos piores espécimes presentes no mercado de ideias, e permite também pelo menos algumas inferências de quais ideias têm melhor potencial de serem dignas de abraçar.


... “Principium sapientiae timor Domini, et scientia sanctorum prudentia.” (Proverbia 9:10)


19. Re: "Minhocas", Filosofia, Habilidades e Futuro

Paulo
paulo1205

(usa Ubuntu)

Enviado em 10/05/2019 - 18:11h

Esbarrei neste vídeo por acaso (ou no acaso que os algoritmos do YouTube permitem) e lembrei da discussão recente deste tópico.

Para aqueles que compreenderem o Inglês e ainda estiverem em dúvida de se existem verdades absolutas, pode ser interessante assistir.

https://youtu.be/oNuULwwSMzg


... “Principium sapientiae timor Domini, et scientia sanctorum prudentia.” (Proverbia 9:10)


20. Re: "Minhocas", Filosofia, Habilidades e Futuro

José
DeuRuimDotCom

(usa Linux Mint)

Enviado em 26/05/2019 - 12:26h

paulo1205 escreveu:
Será que a filosofia inovadora tem sempre de contestar? Não seria uma obra filosófica valiosa aquela que encontrasse novas razões epistemológicas ou ontológicas, além de todas as anteriormente conhecidas, para validar certa ideia X?

Alertei acima para o uso que quis dar à palavra "contestar", muito próximo no caso a "inovar" - de certa maneira, inovar pressupõe a pergunta "isso não poderia ser diferente?", ato contestatório tipicamente humano. Ademais, a investigação filosófica não parte do vazio, via de regra se insere num bojo milenar de contribuições de mentes tanto díspares quanto brilhantes. Pode-se sair por aí proclamando ter encontrado a explicação para a inconstância e mudança das coisas pela descoberta de bolinhas fundamentais, invisíveis e indivisíveis, porém, fará papel de bobo se não tiver atentado para que pelo menos desde Leucipo, isto é, desde pelo menos o séc. V a.C., essa foi uma tese sobre a qual se debruçou toda uma tradição de pensadores e que acabou por nos dar a teoria física talvez mais importante da ciência. E isso serve tanto para idéias novas quanto para argumentos novos.


paulo1205 escreveu:
Mas isso não significa que eu não possa apontar com clareza alguns erros flagrantemente grosseiros, tal como uma premissa que contradiz a si própria, e a atribuição do rótulo de “filosofia” ao estilo de vida que escolhe esse absurdo lógico como fundamento. Para tanto, para além do senso comum, basta um pouquinho de experiência de vida e um minimo de leitura sã.

Concordo. Todavia, em vista do que acabei de dizer, 99,999...% são as chances de repetir argumentos e idéias imensamente já debatidas e repisadas por gente bem mais inteligente e que dedicou sua vida a isso. Isso não quer dizer que devamos nos calar. Nada disso. Trata-se apenas de reconhecer nossos limites. As idéias que nos movem não são nossas, herdamo-las a todo instante. O que podemos fazer por nós mesmos, para não seguir roboticamente a manada, é questioná-las, assumindo os inúmeros custos dessa opção.


paulo1205 escreveu:
acredito, sim, num juízo universal e absoluto — ou, antes, num Juiz absoluto e em Leis universais pelas quais Ele julga.

O problema não é tão acreditar num ou existir de fato um Juiz Absoluto. O problema é a submissão dos litígios. Em suma, o acesso a este Juiz e às suas respostas...

paulo1205 escreveu:
Quanto a toda teoria científica ser validada por fatos passados, não sei se é o caso.

A não ser que tenha acesso ao futuro, não vejo outra saída kkkkk


paulo1205 escreveu:
Minha esperança não é a de que pessoas façam o bem apenas por imitação de outros benfeitores, mas porque entendem que e por que é bom fazer o bem.

Diria que se deve fazer o bem principalmente quando o mal se afigura mais atraente.

paulo1205 escreveu:
...Lógica e da Matemática. Mas mesmo nesses domínios é bem possível que nem tudo possa ser provado, mesmo quando tem resultados úteis

Sim. Gödel já o demonstrou.


paulo1205 escreveu:
o apologista cristão Ravi Zacharias costuma divulgar o que ele chama de 1-2-3-4-5 Worldview Grid

"Sun rises every day" é verdadeira somente se o sol se levanta todos os dias. Percebe que verdadeiro, nesse passo, é predicado da sentença em inglês? Com efeito, verdade pressupõe metalinguagem para ter sentido; não levar isso em conta fatalmente nos conduzirá a paradoxos cujo exemplo clássico é o do mentiroso. Quando o Sr. discorre sobre a linguagem C (e discorre muito bem, diga-se), não usa a linguagem C para fazê-lo, percebe?


21. Re:

Perfil removido
removido

(usa Nenhuma)

Enviado em 26/05/2019 - 14:06h

Tudo é verdade.

Estou tentando trabalhar com essa premissa agora.. Vejo que, como o mundo das distros do Linux,
há uma fragmentação imensa de pensamentos. Isso é bom pelo fato de, vamos supor que descubram
várias falhas maliciosas no Linux, e o Linus e os devs do Linux se tornem Homens Maus e acabem
com boa parte da tecnologia do planeta Terra... Nesse episódio de pressão, existiria ainda opções viáveis
de continuarmos com a computação comunitária, usar um Hurd ou um BSD... Enfim, o que quero dizer
é que esses grupos de minorias são preciosos para os seres humanos..

Se formos pelo prisma da utilidade e da história humana, podemos julgar o que foi útil, e o quanto de
útil que foram essas minorias... Para o futuro, não podemos prever com exatidão se serão úteis ou
não. Mas podemos tirar conclusões sobre a utilidade das coisas vendo a história, e focar no que
realmente trouxe uma inovação positiva...

[ Prefiro não causar muito mais constrangimento p o grupo ...]

[...]



22. Re: "Minhocas", Filosofia, Habilidades e Futuro

Luís Fernando C. Cavalheiro
lcavalheiro

(usa Slackware)

Enviado em 27/05/2019 - 12:11h

Não por arrogância, mas não vou empenhar minha graduação nesta conversa, que já descambou para um bando de sacerdotes cada qual pregando seu dogmatismo.


--
Dino®
IRC: luisfcc86@freenode.com
Vi veri universum vivus vici
Public GPG signature: 0x246A590B
Só Slackware é GNU/Linux e Patrick Volkerding é o seu Profeta
Mensagem do dia: Satã representa conhecimento sem limites e não auto-ilusão hipócrita. 


O Enigma do GNU/Linux
O Enigma do GNU/Linux sempre carregou consigo um mistério. Você deve aprender esse segredo, meu jovem. Você deve aprender sua disciplina. Pois em nada neste mundo você pode confiar. Não nas Debian-like, não nas RPM-based, não nas derivadas do Gentoo. Nisto [aponta para o cachimbo] você pode confiar.



23. Re: "Minhocas", Filosofia, Habilidades e Futuro

Paulo
paulo1205

(usa Ubuntu)

Enviado em 30/05/2019 - 13:01h

lcavalheiro escreveu:

Não por arrogância, mas não vou empenhar minha graduação nesta conversa, que já descambou para um bando de sacerdotes cada qual pregando seu dogmatismo.


--
Dino®
IRC: luisfcc86@freenode.com
Vi veri universum vivus vici
Public GPG signature: 0x246A590B
Só Slackware é GNU/Linux e Patrick Volkerding é o seu Profeta
Mensagem do dia: Satã representa conhecimento sem limites e não auto-ilusão hipócrita. 


O Enigma do GNU/Linux
O Enigma do GNU/Linux sempre carregou consigo um mistério. Você deve aprender esse segredo, meu jovem. Você deve aprender sua disciplina. Pois em nada neste mundo você pode confiar. Não nas Debian-like, não nas RPM-based, não nas derivadas do Gentoo. Nisto [aponta para o cachimbo] você pode confiar.


Evitar a carteirada teria sido um sinal melhor de não-arrogância.

E com tantas pontificações na sua assinatura — algumas, por sinal, de gosto discutível —, soa um tanto incoerente reclamar dos dogmas de outros sacerdotes.


... “Principium sapientiae timor Domini, et scientia sanctorum prudentia.” (Proverbia 9:10)


24. Re:

Perfil removido
removido

(usa Nenhuma)

Enviado em 30/05/2019 - 13:17h

Eu acho que tem que soltar o verbo... não desperdice a oportunidade, uma ideia curta eh muito mais dificil de entender do que uma idea bem explicada, longa...

Essa história de falar pouco, a realidade eh que ficamos mais sábios quando o futuro vira passado! Palavras do economista Delfim Neto..

Uma discussão acalorada, quem sabe vamos aprendendo um pouco aqui, um pouco acolá...

Que essa thread não será um desperdício para a grande maioria dos envolvidos




01 02 03



Patrocínio

Site hospedado pelo provedor RedeHost.
Linux banner

Destaques

Artigos

Dicas

Tópicos

Top 10 do mês

Scripts