lcavalheiro
(usa Slackware)
Enviado em 13/07/2015 - 20:17h
Chega a ser refrescante ver como essa pergunta volta e meia é feita em todos os círculos de usuários de GNU/Linux. Eu me lembro de tê-la ouvido pelo menos uma vez por ano desde 1996, quando eu comecei no Slackware. Naquela época o Slack era a mais fácil das distros, e os usuários de Debian e RedHat se perguntavam "para que Slack, se ele não tem gerenciador de dependências?" Bom, aqueles eram os tempos da internet discada, e mesmo assim de má qualidade. Baixar 50MB era uma aventura temerária, sujeita a erros, à queda de sinal ou a alguém ligar para sua casa no momento em que o download chegasse aos 99% (para quem não sabe, a ligação telefônica derrubava a conexão com a internet).
De lá pra cá muita coisa mudou, exceto uma: o Slack é ainda a mais fácil das distros. Não apenas a mais simples, a mais fácil. Fácil é entendido hoje em dia de uma maneira muito falaciosa. Para os garotos de hoje, "fácil" é aquilo que você senta e sai usando. Isso não é fácil, isso é enganoso. Fácil é uma ferramenta cujo uso é bem documentado e segue uma lógica e uma metodologia bem estabelecidos e conhecidos, pois quando acontece um imprevisto ele saberá muito bem o que fazer para remediar a situação. O "fácil" dos garotos de hoje os deixa com a proverbial face de meio entre as nádegas mal-cheirosas quando um imprevisto acontece, exatamente porque eles não sabem o que fazer para consertar. Basta ver, por exemplo, a quantidade de perguntas absolutamente triviais com as quais usuários de *buntus e derivados superpopulam este fórum, perguntas que eles próprios conseguiriam resolver caso fossem alfabetizados.
Pausa para uma pequena tergiversação. "Alfabetização" aqui não se refere à capacidade de escrever e ler, mas de entender e pensar. A maioria das pessoas hoje (incluindo muitos professores doutores) são analfabetas, são incapazes de pensar fora dos moldes e dos trilhos. Sabem apenas seguir o rebanho, repetir a receita, banir e queimar a inovação. Em tecnologia da informação, isso se traduz com usuários que não sabem fazer nada além do
Combo Redmond XPecial: NEXT>NEXT>NEXT>...>NEXT>INSTALL, temperado com dúzias de adwares e outros softwares maliciosos.
Um pequeno desvio necessário no assunto: The Hacker Manifesto (http://phrack.org/issues/7/3.html), escrito pelo Mentor (aka Lloyd Blankenship).
Nenhum dos argumentos que apresentei até agora está completo, eu sei e isso é proposital. Falo de hacker para hackers.
Voltando ao Slackware. A mais fácil das distros. Ela ainda é relevante porque ela ainda representa o espírito que o Mentor captou no Manifesto.
KISS.
Do it by yourself.
If it ain't broken, don't fix it. Elegância, funcionalidade, beleza e facilidade sacrificadas no altar da ignorância, mas o Slack resiste, o slacker se rebela, "Bob" Dobbs é conosco. O Homem criou a Máquina, e então se permitiu escravizar por Ela. O slacker é o Subhomem, o Subgênio. Nós dominamos a máquina. As distros de hoje esqueceram o que significa ser GNU e o que significa ser Linux - só o Slackware lembra.
Decifra-me, é claro. Eu poderia ter dado a resposta simples e direta, a saber: o Slackware é a única distro que funciona. Mas seria críptico e não teria nem um décimo desse simbolismo todo que diz muito mais do que o Google vai dizer para você. Falo de hackers para hackers.
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Luís Fernando Carvalho Cavalheiro
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Só Slackware é GNU/Linux e Patrick Volkerding é o seu Profeta