Tudo bem, o tal do
ODF parece uma alternativa legal, mas de qualquer forma, por que eu tenho que me preocupar em usá-lo? Todos os meus amigos usam o MS Office; todos passam e recebem arquivos do MS Office; quando mando arquivos para qualquer instituição, pública ou privada, aceitam apenas arquivos do MS Office; os cursos de informática ensinam a usar os formatos do MS Office; afinal de contas, por que devo me preocupar em usar o ODF? Se todos usam os formatos da MS, usar ODF não se torna uma dor de cabeça para mim (tendo que me preocupar em salvar no formato correto, problemas de conversão, etc)?
Para o usuário experiente ou estudantes os primeiros argumentos a favor do ODF são fortíssimos; entretanto, para o usuário comum, não. Para o usuário comum, o segundo argumento é mais importante, pois a esse usuário, a importância reside na facilidade de uso imediato. Ou seja, para o usuário comum, quanto mais fácil melhor; e o mais fácil no momento é manter o uso dos formatos fechados. E temos que lembrar, os usuários comuns são a imensa maioria dos usuários. Devemos lembrar também, que em geral, a imensa maioria define os rumos do mercado e por conseqüência também da informática.
A acomodação dos usuários, que aceitam usar um produto de menor qualidade por conta da preguiça, cria um ambiente favorável a MS, que mantêm a hegemonia no mercado das suítes Office por ter a hegemonia do mercado (associado aos formatos fechados). Essa é uma estratégia antiga da Microsoft: atrasar o quanto pode as tecnologias adversárias e alternativas, aproveitando-se de sua fatia no mercado; depois adota a nova tecnologia, fazendo propaganda como se fosse a única que tivesse suporte àquela tecnologia (mesmo tendo àquela tendo sido adotada por todos os concorrentes anos antes). Radicalismo a parte, é uma estratégia inteligente, mas creio que um pouco suja.
Retomemos a situação: A hegemonia do mercado é do formato próprio da MS; as pessoas tendem a manter a hegemonia, mesmo frente a uma alternativa viável e melhor; o ODF é uma alternativa viável e melhor; O mercado tende às opções da maioria. Estaremos eternamente presos as decisões da MS?
Não. Apesar de boa parte dos usuários não entender a diferença entre o ODF e os formatos da MS, há pessoas, como eu, que não esquecem alguns episódios protagonizados pela MS e seus formatos fechados. Como exemplo cito um acontecimento que me deixou muito chateado: Meados de 1995, minha mãe troca o quase ultrapassado 486, por um novíssimo e extremamente potente Pentium 100 Mhz, com 8 MB de RAM (uau!); hoje não parece grande coisa, mas na época significava muito. Pois bem, com o tal Pentium 100 ("cenzinho" para os íntimos), minha mãe comprou (isso mesmo, original mesmo) o Windows 95 (uns R$ 600,00) e o MS Office 95 (uns R$ 1.000,00). Tudo muito bonito, tudo muito certo, todavia não tardou para a MS lançar o MS Office 97 (que aconteceu aproximadamente no final de 96 - corrijam-me se me engano). E o que isso tem de mal? Certamente o problema não era eu usar uma versão mais antiga do produto, mas dois outros fatores:
- A rápida assimilação do MS Office 97 entre os usuários e governo. Foi quando eu descobri a força da pirataria (mesmo em tempos de gravadores escassos e internet de 28.8 Kb/s, quando tinha);
- A incompatibilidade entre o MS Office 97 e MS Office 95.
A MS mudou os padrões de seus próprios formatos, assim um documento criado no MS Office 97 não poderia ser aberto no MS Office 95. Embora a recíproca não seja verdadeira (os documentos do MS Office 95 abriam sem problemas no MS Office 97), em tempos de conhecimento escasso, quando não haviam "sobrinhos que sabem mexer nessas coisa", o problema gerado era enorme. Sim, havia como salvar no formato do MS Office 95 no MS Office 97, mas poucos detinham esse valioso conhecimento.
Em verdade, o grande problema não é a mudança de padrões propriamente dita, ela pode, talvez, ter gerado vantagens aos usuários, ou evitado problemas graves (mesmo que não conheça nenhum), mas o rompo financeiro que os dois fatores citados juntos ocasionaram. Os R$ 1.000,00 foram praticamente cremados em pouco mais de um ano, pois com a rápida assimilação do novo software fui obrigado a adquirir o MS Office 97. Dessa vez foi pirata. Imagine agora a cena no governo federal: quantos milhões não foram desembolsados.
Mesmo que esse tenha sido um caso superado, pois em versões posteriores do MS Office as mudanças nos formatos não foi tão radical, nada, ou muito pouco, garante novos acontecimentos como esse, ou piores. Com vista nesse problema, entre outros tantos, usuários e governos têm optado pelo ODF, que não os prende à nenhum software específico ou corporação qualquer. O quê forçou a MS ceder as pressões do software livre e adotar compatibilidade com o ODF para as próximas versões do MS Office, no caso o 2007.
Talvez seja exagero dizer que os formatos proprietários morreram, me parece que sempre terão seu espaço, mas em outras funções, de áreas mais específicas. Do mesmo modo é besteira dizer que o MS Office morreu, me parece que se a MS fizer tudo certo ele ainda tem fôlego para muitos anos; mas, com o advento do ODF o MS Office dificilmente manterá-se hegemônico por conta de sua já corrente hegemonia - a concorrência seja em níveis superiores, onde a qualidade terá primazia sobre a preguiça. Ao meu ver, tanto a MS, quanto outras empresas e organizações, terão que suar para conseguir seu público, aumentando a qualidade dos produtos. Quem tem a ganhar com isso somos nós, usuários.
Viva o ODF.