paulo1205
(usa Ubuntu)
Enviado em 17/07/2023 - 00:49h
SamL escreveu:
3-Se deus é amor como tá na bíblia, por que existe o fogo eterno do inferno? Ele me ama tanto que é capaz de me torrar na brasa pra eu sofrer eternamente? [sadismo divino]
Se você olhar para o Deus judaico-cristão, verá que Ele não é descrito apenas como fonte e modelo do amor perfeito, mas também como fonte da justiça perfeita.
Diante da Justiça Perfeita, o que é injusto merece ser destruído. O Amor Perfeito, porém, oferece ao imperfeito a possibilidade de ser aperfeiçoado, para que não seja destruído.
O que é imperfeito tem a possibilidade de aceitar ou de rejeitar a oferta de aperfeiçoamento feita pelo Amor Perfeito. Tal liberdade é necessária, pois sem ela não poderia haver amor genuíno, uma vez que a reciprocidade ao amor verdadeiro nunca é uma imposição.
Aceitando a oferta do Amor Perfeito que acompanha o amado imperfeito até a sua morte, este é aperfeiçoado e justificado para que possa conviver eternamente com a Justiça Perfeita e o Amor Perfeito. Rejeitando-a, por outro lado, ele rejeita não apenas o Amor, mas a própria Justiça e a própria Perfeição, não podendo, portanto, ressentir-se de não passar a eternidade com Aquele de onde e de quem precedem.
4-Se a ciência diz que nada se perde na natureza, já que cada coisa serve pra outra coisa, por que então minha consciência como pessoa, digo, minha informação que faz eu ser o Samuel desapareceria completamente na minha morte assim como dizem os ateus? Não seria isso contradição? Exemplo: um cadaver serve de alimento pras bactérias, animais, e adubo pra planta, ou se for de frango, serve os pés de galinha pro henrique-rj, etc.
Não estou muito certo de que a ciência diz que “nada se perde”. Energia se conserva, mas boa parte da energia acaba se convertendo em entropia, que deixa de ser útil para a manutenção da vitalidade dos seres vivos ou do daquilo que nós vemos de mais notável no universo, tal como as estrelas.
Mecanicamente, só é possível realizar trabalho útil enquanto houver energia de baixa entropia disponível. Num sistema fechado a entropia somente aumenta, de modo que cada vez vai sendo possível realizar menos com a energia desse sistema. A vida só é possível para nós porque nós passamos a vida inteira recebendo energia de baixa entropia por meio daquilo que comemos e por causa da energia que nos chega do sol, e nós rapidamente usamos essa energia para os nossos processos, aumentando sua entropia e descartando aquilo que já não nos serve mais, mas que ainda pode ser aproveitado por outros seres, os quais vão usar esses dejetos para seus processos internos e aumentar ainda mais a entropia, nunca cadeia que para no momento em que não houver mais como se aproveitar mais aquela energia para gerar trabalho.
Note que interessante: a energia que nos chega do sol é muito útil para nós, mas não tem como ser devolvida ao sol. Quando essa energia chega ao milharal, entra no processo de formação da espiga de milho; contudo, após o milho estar formado, não é mais possível desfazer a espiga e retornar os nutrientes ao solo e a luz ao sol. O que se pode fazer é comer o milho, e com ele ter energia para correr uma maratona. Mas depois de corrida a maratona, não dá para refazer nem mesmo um só grãozinho de milho desfazendo o gasto de energia muscular que produziu o movimento e produziu o aumento da temperatura corporal que gerou o suor que evaporou da superfície da pele ou após pingar no chão.
Muito daquilo que aprendemos nas aulas de ciências do colégio como sendo ciclos, tais como o “ciclo da água”, o “ciclo alimentar”, o “ciclo do carbono”, o “ciclo do oxigênio” e outros ciclos biogeoquímicos, somente
parecem cíclicos porque contam com uma fonte muito duradoura de energia de baixa entropia, que é o sol. Por isso, quando se olham esses fenômenos que acontecem na Terra, não é correto considerá-los como sendo parte de um sistema fechado, uma vez que a fonte de energia não depende do sistema que está sendo observado. É possível, porém, expandir espacialmente o escopo de observação para se considerar o sol como a fonte de energia para os ciclos da Terra.
Mas de onde vem (ou veio) a energia do sol? Certamente não foi do restante do sistema solar em si, pois a energia que o sol envia aos planetas tem entropia maior do que quando estava no próprio sol (além disso, boa parte dessa energia nem sequer chega aos planetas, mas é enviada sem volta para os limites exteriores do universo). Para compreender isso, é necessário expandir ainda mais o escopo de observação, não apenas no espaço, mas também no tempo, até abranger todo o universo ao longo de toda sua história. E dado que o tempo-espaço do universo é, por definição, o limite de qualquer sistema observável, o universo seria, por definição, um sistema fechado, cuja entropia apenas aumenta com o tempo. Isso implica que, em algum momento, toda a energia útil do universo há de ser consumida, e toda ela alcançará um nível de entropia que tornará qualquer realização de trabalho em qualquer parte do universo impossível, no que seria chamado de a morte térmica do universo.
Se, por analogia, pode-se dizer que o universo morre — e podemos até dizer que morre de velhice —, não faria sentido dizer que ele um dia nasceu? E como poderia algo que é “fechado por definição” nascer? De onde — ou de quem — poderia vir tanta energia de baixa entropia que durasse supostas dezenas de bilhões de anos (há debates sobre quantas dezenas) e ainda continuar pujante?
A segunda parte da pergunta é uma mudança radical de direção da sua parte, não? Porque os naturalistas (que entendo ser uma designação melhor do que “ateus”, usada por você, embora eu nunca tenha visto um ateu que não fosse naturalista) dificilmente falam em termos de consciência ou mesmo de mente, normalmente preferindo falar da realidade física do cérebro, bem como descrever alguns processos que o discurso comum chama de “pensamentos”, “ideias”, “emoções” ou “consciência” apenas como atividade cerebral, decorrente de processos biofisicoquímicos. Assim, quando o Samuel ou o Paulo morrem, cessa toda a atividade fisiológica e bioquímica dos seus corpos, e eles passam a ser apenas uma coleção de átomos prontos para serem reaproveitados em alguma outra coisa ou substância quaisquer. Seu legado histórico, se houver, apenas haverá se eles tiverem deixado descendentes, ou se tiverem registrado o produto de suas atividades cerebrais no mundo de alguma forma (escrita, artística, arquitetônica etc.).
É difícil para um naturalista justificar ou mesmo descrever o que você chamou de informação. Explicar como que umas manchas de tintas numa folha de papel (alguma coisa escrita) pode fazer sentido para múltiplos indivíduos apenas por meio de um sistema espetacularmente complexo de equações fisicoquímicas que ocorrem nos cérebros (para não mencionar nos olhos de quem lê, nos ouvidos de quem ouve ou no tato de quem percebe por meio de Braille) parece algo indescritivelmente difícil.
Eu diria mesmo que é impossível, mas não vejo — e muitos naturalistas reducionistas também não veem — outro meio pelo qual os naturalistas possam explicar um mundo completamente desprovido de transcendência.
5-Se segundo conta a física atual, a informação não se perde, ela está na fumaça e nas cinzas do livro queimado pela santa inquisição católica, então, não seria isso uma ideia de que existe vida após a morte? Já que tudo pode ser traduzido como informação, onde há energia há informação, essa que nada mais é que uma permutação da energia e por consequencia, eu sou um ser infinito?
O que você chama de informação? Eu não consigo ver a Física dizendo que informação não se perde. Vejo, aliás, o contrário (por exemplo, pelo Princípio da Incerteza, há informações que não podem sequer ser medida sem o simples fato de as medir possa alterar seu valor).
Gostaria que você indicasse de onde veio essa afirmação.
A fumaça das cinzas dos livros queimados, quer seja pela Inquisição (que matou muito menos do que a propaganda e o _folklore_ antirreligioso geralmente tentam fazer crer, cf.
https://www.theguardian.com/world/2004/jun/16/artsandhumanities.internationaleducationnews#:~:text=E....
, e que provavelmente não tinha queimar livros como foco principal — e eu ressalto que digo isso sem ser católico nem simpatizante da coroa espanhola), quer pelos nazistas, quer pelo califa Uthman, entre muitas queimas de livro ao longo da história, não tem como ser revertida de novo em informação, pois está numa forma de muita entropia, com provável total conversão dos elementos químicos que a formavam em moléculas completamente diferentes e aleatoriamente espalhadas pelo mundo por centenas ou milhares de anos.
Você participa de fóruns de programação. Diga-me uma coisa: se eu pegar uma imagem em 4k e
true color, converter para JPG (compressão
com perda) e depois embaralhar completamente todos os bytes resultantes, você consegue reconstruir a imagem original de 4k
true color? Aposto que não, mesmo sem ela ter saído da RAM do micro. Como pode dizer que a informação de livros queimados séculos atrás não se perdeu?
... Então Jesus afirmou de novo: “(...) eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente.” (João 10:7-10)