lcavalheiro
(usa Slackware)
Enviado em 02/07/2013 - 02:15h
Concordo que após alguns séculos nesta lógica possa parecer estranho falar em fim das instituições, fim das estruturas de poder e coisa e tal. Mas paradoxalmente essa forma de organização social já é desejada por muitos e aceita como possível em pelo menos um cenário imaginável: a proposta de organização social do cristianismo é, em sua origem, anarquista, bem como o é a definição "clássica" do paraíso cristão. E qualquer cristão diz que é possível viver como o Novo Testamento diz se as pessoas tiverem um pouquinho de boa vontade.
Saindo do campo religioso, que serviu apenas para trazer um exemplo, digo que o anarquismo não é viável sem antes uma reeducação social intensa. Somos acostumados com a lógica do governante e do governado, do mandante e do mandado, e nossa educação não nos permite perceber uma falácia simples sobre a qual se estrutura toda e qualquer idéia de governo: que só existe liderança com líderes. De fato, nenhum grupo social existirá sem liderança - sem liderança o negócio vira um simples caos. O povo como um todo pode e deve ser a liderança, eliminando os líderes que nada mais são do que representantes, intermediários, parasitas e desnecessários.
Uma objeção simples é que uma liderança sem líderes não funcionaria com grupos grandes - digamos, maiores do que duas mil pessoas. Mas se a sociedade se dividir em células de duas mil pessoas e essas células agirem coordenadamente entre si, resolve-se a objeção pelo menos no plano teórico. No plano prático, pode acontecer que várias células decidam se dedicar a algumas atividades e nenhuma célula cuide de outras (ninguém quer trabalho duro, isso é fato), e isso exigiria um certo nível de discussão que eu não tenho condições de conduzir após a quinta noite sem dormir.
Concordo que o anarquismo não é uma solução para agora. Nem para os próximos cinquenta anos, se você me permite dizer. Mas é necessário ir construindo as condições necessárias aos poucos, para que dados os cinquenta anos nossos descendentes possam julgar-nos os artífices da utopia na qual eles viverão.
Quanto à sua crítica ao socialismo, respondo para você com o mesmo comentário que o Visconde de Sabugosa fez em "Geografia de Dona Benta":
- Não adianta tirar o prato de feijão de A e dá-lo para B, é preciso produzir feijão o suficiente para que A e B possam ter o que comer
O socialismo científico é apenas uma política de redistribuição de riquezas promovida pela burocracia governamental que serviria para mitigar as desigualdades sociais até o momento em que elas desaparecessem, quando o governo desapareceria para dar lugar ao comunismo - essencialmente o mesmo objetivo do anarquismo, mas com esse estado intermediário chamado socialismo. Desnecessário dizer, o socialismo representa uma etapa problemática, já que você apenas muda os poderosos, e esses novos poderosos certamente não irão querer abdicar de seus tronos quando chegar a hora de dar o passo rumo ao comunismo. Dessa forma, percebe-se que nunca houve uma nação comunista na face deste planeta, apenas nações socialistas.